Desde que terminei a 1ª temporada
de “Desapaixonante”, em 2015, venho tentando buscar meios de transformar a
história em livro físico, como os romances que estamos acostumados a ver nas
livrarias, acessíveis ao público fã de literatura. Imagino a satisfação em
poder tocá-la, senti-la, cheirá-la, como se segurasse um filho mesmo.
No entanto, vamos conversar um
pouquinho sobre como isso é MUITO difícil.
Para começo de tudo, andei
percebendo o quanto muitas pessoas não têm noção de que o caminho entre uma
história considerada gostável (sim, eu sou modestinho) e a busca por uma
publicação através de uma editora é árduo e, dependendo do dia, frustrante e
deprimente. Engana-se quem pensa que é comum acontecer como nos filmes, novelas
ou nos próprios livros, em que uma pessoa cria algo genial (seja uma música ou
mesmo uma obra literária) e do nada aparece alguém disposto a investir e fazer
disso algo grandioso, famoso e bem-sucedido.
Pode até acontecer, mas em geral
é puro golpe de sorte. Para alguns autores, especialmente aqui no Brasil, que
hoje lotam sessões de autógrafo e possuem diversos seguidores nas redes sociais
e inúmeros fãs de suas narrativas, é bem provável que eles tiveram de ralar
muito mais do que você imagina.
As histórias são das mais variadas.
Tem o Gustavo Ávila, por exemplo, que bancou do próprio bolso um número X de
exemplares de seu ótimo O sorriso da
hiena, imprimindo diretamente em uma gráfica e dando duro pra montar o site
pra vender o livro e dando mais duro ainda para divulgar o livro que,
inclusive, levou três anos para concluir. Após um boca-a-boca incrível, Ávila
foi agenciado por uma boa agência literária e conseguiu fisgar um contrato com
a editora Record (para quem é leigo no assunto, é uma entre as várias editoras
tradicionais, nas quais você é pago para publicar, em vez do contrário, e é o
que a maior parte dos escritores almeja).
Pois bem, o caminho com “Desapaixonante”
tem sido o seguinte: começou com o envio do original todo formatado nos
conformes que cada editora solicita (a fonte, o tamanho, como o texto deve
estar paragrafado etc.). Tem aquelas editoras que nunca recebem originais e
aparentemente os autores nacionais de seus catálogos foram convidados ou
ingressaram através de algum agente literário de peso. Há quem diga que muitos
originais que chegam às mesas das editoras sequer são lidos, uma informação que
eu não descartaria devido ao que já pesquisei sobre o assunto, mas não vamos
entrar nesse mérito.
Um autor iniciante (o que não é
exatamente o meu caso, mas vou me enquadrar aqui pelo fato de ser pouquíssimo
conhecido) precisa rebolar muito, caso ele não tenha grana pra firmar um
contrato com uma editora que venda o serviço de publicação de seu livro. Sim,
porque uma coisa que muitas pessoas, principalmente consumidores de literatura,
não sabem é que editoras que cobram para publicar livros são um ramo comercial
muito comum no Brasil, e como toda forma de comércio, possui seus perigos. E
quando se envolve dinheiro, entramos em questões muito complicadas. Mas pior do
que é isso é quando não só envolve dinheiro, mas também o sonho da pessoa em
ter seu livro impresso. Por essas e outras razões, é necessário ter muita
cautela e pesquisar bastante para não cair em possíveis armadilhas. Isso sem
falar que a maioria dessas editoras não distribui o seu livro, isto é,
raramente ele vai parar numa livraria, ficando relegado a ser comprado no site
da própria editora ou com o próprio autor, que recebe caixas com 100, 200, 500
exemplares ou seja lá quantos ele “encomendou” e tem de se esforçar para vender,
enviar por correio, promover em eventos literários etc. Haja amor, não? Pois é.
A quantidade de autores que se submete a isso é infinita, mas vale lembrar que
cada um é cada um.
Outra coisa que o autor precisa
se desdobrar a fazer é a divulgação. Esta é a parte mais difícil. Compartilhar
links das suas histórias no Facebook, Twitter e afins ajuda, mas não cobre nem
10% do que garantiria um resultado legal. Comigo foi assim: a história foi
inicialmente publicada no meu blog, como um experimento para ir testando o
texto, depois migrei para o Wattpad (onde há todos os tipos de escritores que
você nem sonha, e alguns deles estão alcançando sucesso tremendo), onde
particularmente minha experiência não é muito satisfatória e, finalmente, fui
parar na Amazon. Confesso que me arrependo por ter demorado a decidir publicar o
e-book da 1ª temporada de DSPXNT por lá, pois a presença do livro nessa
plataforma tem sido muito melhor para que as pessoas o conheçam. Não tem sido
melhor financeiramente, mas tem feito uma diferença enorme na divulgação da
história, já que tem crescido o interesse das pessoas por e-books, ainda mais
nas vezes em que ele está disponível para ser baixado de graça. Antes de
prosseguir, observe o seguinte: o objetivo de conseguir publicar um livro nas
formas tradicionais não tem o dinheiro como foco primário. Escritores que amam
fazer esse trabalho antes buscam muito mais que suas histórias alcancem o maior
número possível de leitores. Dinheiro é ótimo, lógico, mas ele é a consequência
de uma vitória alcançada antes de ganhos financeiros consideráveis.
Outra coisa que muita gente não
faz ideia é que hoje existem muitos produtores de conteúdo literário que ajudam
e muito no sucesso de um livro. Blogs, Perfis no Instagram e canais no Youtube
são os principais deles, e suas resenhas e opiniões contribuem
significativamente para que mais pessoas cheguem até o seu material. São
pessoas apaixonadas por leitura, carismáticas, articuladas e que agregam outras
pessoas que levam em consideração seus elogios ou críticas a todo tipo de obra
literária. E o que isso tem a ver comigo? Encontrei muitos dispostos a me
ajudar, o que acabou realmente acontecendo e trazendo mais visibilidade ao meu
livro. Sou e serei imensamente grato a esses seres humanos tão fantásticos! Porém,
chegar até essas pessoas não é fácil. A princípio, algumas das que eu conheci
possuem Mídia Kit, o que basicamente é um pacote de serviços onde, mediante
pagamento de determinados valores, você descola a chance para que o seu livro
ocupe um espaço em suas redes sociais, seja para uma divulgação breve, uma
menção num vídeo ou uma resenha exclusiva. Não reprovo, pois essas pessoas têm
competência para isso e estão corretas em valorizar seu trabalho, mas em geral
não tive como arcar com vários dos valores que me foram propostos. Felizmente,
entre serviços pagos e não pagos, a imensa maioria colaborou comigo por puro
amor e admiração pelas peripécias de Sávio e Milena.
Recentemente, suscitei os
seguidores do perfil de “Desapaixonante” no Instagram (@desapaixonante_oficial)
a sugerirem o livro para as editoras, como forma de reforçar através de
mensagens, e-mails e posts que essa história existe, tem bom recebimento do
público leitor e poderia interessar a eles, já que ela tem uma proposta de
literatura de fácil entretenimento.
Por fim, após todo esse caminho,
tem o fato de você chamar atenção da editora ou não. E aí haja criatividade,
paciência e bom senso. A maior parte dos autores nacionais que hoje conseguiram
isso têm vários fatores em comum: ou sofreram anos investindo (tempo, dinheiro
etc.) na divulgação de suas obras ou conseguiram um número gigantesco de
leitores em plataformas como Wattpad (por exemplo, perto de um milhão em
diante). Tem aqueles que aceitaram pagar fortunas para realizar o sonho e, com
o tempo, conseguiram seu lugar ao sol e (eu espero) seu investimento de volta,
rsrs...
Para não parecer que eu estou
pintando as editoras brasileiras como vilãs, vale ressaltar algo justo:
editoras são empresas. Já deve ser bastante arriscado apostar no mercado
editorial no Brasil, então imagine arriscar em algo que não se tem uma garantia
de venda e lucro. O fato de haver pessoas que digam que amam “Desapaixonante”
ou que vão comprar quando sair em livro físico não significa que isso vá dar
retorno financeiro à editora que resolver lançar o produto. É por isso que há
muito mais livros estrangeiros entre os mais vendidos e mais ofertados, pois
eles já vieram de seus países com índice de vendas estupendo.
Entretanto, de uns tempos pra cá,
tenho visto as editoras mais abertas a essa demanda por literatura nacional.
Eles estão notando que existe gente produzindo textos bons e dignos de dividir
as prateleiras com nomes em maior evidência. Talvez seja essa visão otimista
que me deixa continuar lutando por esse desejo de alcançar um lugar para a
minha literatura e fazer as pessoas pararem para ler o que a minha imaginação
concebeu, e se alegrar com as coisas doidas, divertidas e absurdas que eu gerei
com tanto amor.
Por hoje, o jeito é seguir até se
esgotarem todas as chances.
2 comentários:
Que texto lindo e triste ao mesmo tempo, concordo que é muito difícil publicar um livro no Brasil e demanda muito suor e infelizmente muito investimento, mas tenho certeza que um dia se Deus quiser, você irá realizar esse sonho !
Que texto lindo e triste ao mesmo tempo, concordo que é muito difícil publicar um livro no Brasil e demanda muito suor e infelizmente muito investimento, mas tenho certeza que um dia se Deus quiser, você irá realizar esse sonho !
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