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23 de maio de 2017

POR QUE "DESAPAIXONANTE" AINDA NÃO VIROU LIVRO FÍSICO?




Desde que terminei a 1ª temporada de “Desapaixonante”, em 2015, venho tentando buscar meios de transformar a história em livro físico, como os romances que estamos acostumados a ver nas livrarias, acessíveis ao público fã de literatura. Imagino a satisfação em poder tocá-la, senti-la, cheirá-la, como se segurasse um filho mesmo.
No entanto, vamos conversar um pouquinho sobre como isso é MUITO difícil.
Para começo de tudo, andei percebendo o quanto muitas pessoas não têm noção de que o caminho entre uma história considerada gostável (sim, eu sou modestinho) e a busca por uma publicação através de uma editora é árduo e, dependendo do dia, frustrante e deprimente. Engana-se quem pensa que é comum acontecer como nos filmes, novelas ou nos próprios livros, em que uma pessoa cria algo genial (seja uma música ou mesmo uma obra literária) e do nada aparece alguém disposto a investir e fazer disso algo grandioso, famoso e bem-sucedido.
Pode até acontecer, mas em geral é puro golpe de sorte. Para alguns autores, especialmente aqui no Brasil, que hoje lotam sessões de autógrafo e possuem diversos seguidores nas redes sociais e inúmeros fãs de suas narrativas, é bem provável que eles tiveram de ralar muito mais do que você imagina.
As histórias são das mais variadas. Tem o Gustavo Ávila, por exemplo, que bancou do próprio bolso um número X de exemplares de seu ótimo O sorriso da hiena, imprimindo diretamente em uma gráfica e dando duro pra montar o site pra vender o livro e dando mais duro ainda para divulgar o livro que, inclusive, levou três anos para concluir. Após um boca-a-boca incrível, Ávila foi agenciado por uma boa agência literária e conseguiu fisgar um contrato com a editora Record (para quem é leigo no assunto, é uma entre as várias editoras tradicionais, nas quais você é pago para publicar, em vez do contrário, e é o que a maior parte dos escritores almeja).
Pois bem, o caminho com “Desapaixonante” tem sido o seguinte: começou com o envio do original todo formatado nos conformes que cada editora solicita (a fonte, o tamanho, como o texto deve estar paragrafado etc.). Tem aquelas editoras que nunca recebem originais e aparentemente os autores nacionais de seus catálogos foram convidados ou ingressaram através de algum agente literário de peso. Há quem diga que muitos originais que chegam às mesas das editoras sequer são lidos, uma informação que eu não descartaria devido ao que já pesquisei sobre o assunto, mas não vamos entrar nesse mérito.
Um autor iniciante (o que não é exatamente o meu caso, mas vou me enquadrar aqui pelo fato de ser pouquíssimo conhecido) precisa rebolar muito, caso ele não tenha grana pra firmar um contrato com uma editora que venda o serviço de publicação de seu livro. Sim, porque uma coisa que muitas pessoas, principalmente consumidores de literatura, não sabem é que editoras que cobram para publicar livros são um ramo comercial muito comum no Brasil, e como toda forma de comércio, possui seus perigos. E quando se envolve dinheiro, entramos em questões muito complicadas. Mas pior do que é isso é quando não só envolve dinheiro, mas também o sonho da pessoa em ter seu livro impresso. Por essas e outras razões, é necessário ter muita cautela e pesquisar bastante para não cair em possíveis armadilhas. Isso sem falar que a maioria dessas editoras não distribui o seu livro, isto é, raramente ele vai parar numa livraria, ficando relegado a ser comprado no site da própria editora ou com o próprio autor, que recebe caixas com 100, 200, 500 exemplares ou seja lá quantos ele “encomendou” e tem de se esforçar para vender, enviar por correio, promover em eventos literários etc. Haja amor, não? Pois é. A quantidade de autores que se submete a isso é infinita, mas vale lembrar que cada um é cada um.
Outra coisa que o autor precisa se desdobrar a fazer é a divulgação. Esta é a parte mais difícil. Compartilhar links das suas histórias no Facebook, Twitter e afins ajuda, mas não cobre nem 10% do que garantiria um resultado legal. Comigo foi assim: a história foi inicialmente publicada no meu blog, como um experimento para ir testando o texto, depois migrei para o Wattpad (onde há todos os tipos de escritores que você nem sonha, e alguns deles estão alcançando sucesso tremendo), onde particularmente minha experiência não é muito satisfatória e, finalmente, fui parar na Amazon. Confesso que me arrependo por ter demorado a decidir publicar o e-book da 1ª temporada de DSPXNT por lá, pois a presença do livro nessa plataforma tem sido muito melhor para que as pessoas o conheçam. Não tem sido melhor financeiramente, mas tem feito uma diferença enorme na divulgação da história, já que tem crescido o interesse das pessoas por e-books, ainda mais nas vezes em que ele está disponível para ser baixado de graça. Antes de prosseguir, observe o seguinte: o objetivo de conseguir publicar um livro nas formas tradicionais não tem o dinheiro como foco primário. Escritores que amam fazer esse trabalho antes buscam muito mais que suas histórias alcancem o maior número possível de leitores. Dinheiro é ótimo, lógico, mas ele é a consequência de uma vitória alcançada antes de ganhos financeiros consideráveis.
Outra coisa que muita gente não faz ideia é que hoje existem muitos produtores de conteúdo literário que ajudam e muito no sucesso de um livro. Blogs, Perfis no Instagram e canais no Youtube são os principais deles, e suas resenhas e opiniões contribuem significativamente para que mais pessoas cheguem até o seu material. São pessoas apaixonadas por leitura, carismáticas, articuladas e que agregam outras pessoas que levam em consideração seus elogios ou críticas a todo tipo de obra literária. E o que isso tem a ver comigo? Encontrei muitos dispostos a me ajudar, o que acabou realmente acontecendo e trazendo mais visibilidade ao meu livro. Sou e serei imensamente grato a esses seres humanos tão fantásticos! Porém, chegar até essas pessoas não é fácil. A princípio, algumas das que eu conheci possuem Mídia Kit, o que basicamente é um pacote de serviços onde, mediante pagamento de determinados valores, você descola a chance para que o seu livro ocupe um espaço em suas redes sociais, seja para uma divulgação breve, uma menção num vídeo ou uma resenha exclusiva. Não reprovo, pois essas pessoas têm competência para isso e estão corretas em valorizar seu trabalho, mas em geral não tive como arcar com vários dos valores que me foram propostos. Felizmente, entre serviços pagos e não pagos, a imensa maioria colaborou comigo por puro amor e admiração pelas peripécias de Sávio e Milena.
Recentemente, suscitei os seguidores do perfil de “Desapaixonante” no Instagram (@desapaixonante_oficial) a sugerirem o livro para as editoras, como forma de reforçar através de mensagens, e-mails e posts que essa história existe, tem bom recebimento do público leitor e poderia interessar a eles, já que ela tem uma proposta de literatura de fácil entretenimento.
Por fim, após todo esse caminho, tem o fato de você chamar atenção da editora ou não. E aí haja criatividade, paciência e bom senso. A maior parte dos autores nacionais que hoje conseguiram isso têm vários fatores em comum: ou sofreram anos investindo (tempo, dinheiro etc.) na divulgação de suas obras ou conseguiram um número gigantesco de leitores em plataformas como Wattpad (por exemplo, perto de um milhão em diante). Tem aqueles que aceitaram pagar fortunas para realizar o sonho e, com o tempo, conseguiram seu lugar ao sol e (eu espero) seu investimento de volta, rsrs...
Para não parecer que eu estou pintando as editoras brasileiras como vilãs, vale ressaltar algo justo: editoras são empresas. Já deve ser bastante arriscado apostar no mercado editorial no Brasil, então imagine arriscar em algo que não se tem uma garantia de venda e lucro. O fato de haver pessoas que digam que amam “Desapaixonante” ou que vão comprar quando sair em livro físico não significa que isso vá dar retorno financeiro à editora que resolver lançar o produto. É por isso que há muito mais livros estrangeiros entre os mais vendidos e mais ofertados, pois eles já vieram de seus países com índice de vendas estupendo.
Entretanto, de uns tempos pra cá, tenho visto as editoras mais abertas a essa demanda por literatura nacional. Eles estão notando que existe gente produzindo textos bons e dignos de dividir as prateleiras com nomes em maior evidência. Talvez seja essa visão otimista que me deixa continuar lutando por esse desejo de alcançar um lugar para a minha literatura e fazer as pessoas pararem para ler o que a minha imaginação concebeu, e se alegrar com as coisas doidas, divertidas e absurdas que eu gerei com tanto amor.

Por hoje, o jeito é seguir até se esgotarem todas as chances.

2 comentários:

Brunna Nunes disse...

Que texto lindo e triste ao mesmo tempo, concordo que é muito difícil publicar um livro no Brasil e demanda muito suor e infelizmente muito investimento, mas tenho certeza que um dia se Deus quiser, você irá realizar esse sonho !

Brunna Nunes disse...

Que texto lindo e triste ao mesmo tempo, concordo que é muito difícil publicar um livro no Brasil e demanda muito suor e infelizmente muito investimento, mas tenho certeza que um dia se Deus quiser, você irá realizar esse sonho !