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1 de agosto de 2013

crônica: PLANO B

     

  

    Os amigos estacionaram em frente à casa de Rita. Estavam numa euforia só, prestes a ir badalar em comemoração ao aniversário de dezoito anos de Mônica, que também estava no carro. Aqueles jovens estavam na fissura por uma bebedeira noturna. Rita apareceu na janela, fez um sinalzinho qualquer com os dedos, voltou pra dentro de casa e reapareceu em um minuto, pronta para ir finalmente.
— Arranca, Diego!! Hoje eu quero me esbaldar— incitou Mônica, instruindo o amigo que estava ao volante.
     Quando ele sorriu e deu partida no carro, Rita o interrompeu, num ímpeto dramático.
— Peraí, gente! Eu pensei melhor... Olha, eu não vou mais.
    As outras três pessoas no veículo olharam atônitas para Rita. Mas que história era essa agora, mal tinha entrado e já queria sair?! Diego achou que era zoeira, Mônica tentava sacar se ela falava sério ou não e Henrique começou a protestar, como sempre causando impacto pela voz grave e sotaque pernambucano carregado.
— É sério, galera— insistiu Rita.
     E aí começou a explicar:
— Gente, é que eu entrei aqui, me passou um filme bem rápido. Eu vi minha vida passando diante dos meus olhos, seriozão. De repente bateu uma aflição tão forte, mas tão forte, que eu senti que era pra sair desse carro.
— Ah, cê tá de sacanagem, né? Tipo aquelas premonições de filme?—indagou Mônica, com um ligeiro tom de decepção na voz.
— Que premonição o quê! É algo muuuuito real, isso sim. Pensem comigo: a gente sai pra comemorar o niver da Moniquita, bebe uns tragos, dá uma zoada pela city, depois volta cada um pra sua casa, certo?
     Todos se entreolharam em concordância. Rita prosseguiu:
— Não, não é certo. É errado. Cara, vocês já pensaram se a gente sofre um acidente? Façam as contas: a gente é quatro. O do volante e o do banco de carona tem uns bons porcentos de se lascarem logo de cara, enquanto a Mônica e eu, aqui atrás, podemos pegar uns ferimentos, mas nada impede que a gente se lasque também, quem sabe até pior que vocês dois aí...
— Que papo é esse, Rita? Para com esse lance, é sinistro demais— Diego estava ficando impaciente.
— Mas essa não é a pior parte, gente. Vocês estão ligados que o sistema de saúde do Brasil tá meeeega precário, né? Cara, eu juro, se for pra sair e sofrer acidente pra ter um péssimo atendimento num pronto-socorro, eu prefiro ficar em casa. E você, Mônica? Que Deus te livre, amiga, mas já pensou em ganhar esse presente de grego no dia que faz dezoito anos? Ou se acontece algo ainda pior? Já até imagino os jornais noticiando mais uma morte no trânsito, jovens que saíram pra se drogar e foram irresponsáveis e bateram num poste e capotaram e um teve a cabeça decapitada, o outro foi lançado pra fora do carro, aí veio um caminhão que não teve tempo de frear e esmagou o cara e...
— CHEGA!!!!— a aniversariante deu um grito estridente, já estava se tremendo toda.
     Após o grito de Mônica, todos ficaram em silêncio. Clima chato. Henrique, o nordestino de voz parruda, foi quem quebrou o silêncio:
— Oxe, a gente só ia beber, ninguém ia se drogar não...
     Rita, agora mais contida, falou:
— Ai, gente, desculpa. Não tava querendo trollar nosso passeio. Pô, na boa, desculpa mesmo. Mas é que eu não quero me arriscar. Todo mundo aqui bebe, aí tem essa coisa de bafômetro, o Diego não tem carteira de motorista, eu não tenho dinheiro pra pagar hospital particular em caso de acontecer alguma coisa, e todo dia passa na televisão que as condições da saúde brasileira estão meeega precárias, galera. Sei lá, já pensou no mico de ficar toda quebrada em corredor de hospital porque lá não tem condições adequadas? Olha, hoje em dia tá ruim até pra sofrer acidente. Ah, eu não. Não mesmo. Tô fora. Sinto muitão, amigos. Fui.
     Rita abriu a porta do carro, começou a subir a calçada de volta para casa, quando Mônica a chamou. Rita olhou para trás, esperando um comentário muito magoado da amiga. Mas teve uma surpresa:
— Rita, então vamos voltar pro plano A mesmo...
     E passaram a noite comemorando o aniversário de Mônica no pátio da residência de Rita. Bebendo coca-cola e jogando Uno. Não pareciam uma maravilha de alegres, mas voltaram ilesos para casa depois. 

2 comentários:

yurgel disse...

Boa, MV! Gostei do "Oxe, a gente só ia beber" rs

yurgel disse...

Bacana, MV! Gostei do "Oxe, a gente só ia beber"! rs