(Sávio)
Um mês após aquela noite de Natal
Algumas pessoas curtem fazer
promessa para cada novo ano que se inicia. Diante dos fatos e de como a vida
anda, eu só desejo acordar vivo a cada dia de 2016. De resto, eu vejo como vou
me virando.
O resto de Dezembro não foi
fácil. Tentei ligar para Milena, mandar mensagens, mas ela levou aquela
discussão muitíssimo a sério. Era uma vez uma amizade inabalável. Estou
bloqueado em seu Facebook e em todas
as outras redes sociais. No século XXI isso quer dizer uma porção de coisas. No
nosso caso, quer dizer que ela não estava mentindo e apenas fazendo drama
quando saiu da minha casa naquela noite de Natal.
A pior cena, entretanto, foi
quando ela apareceu na sede da ANNA para pegar suas coisas. Perguntei a ela
como faria a partir de então e ela disse, me alfinetando, o seguinte:
“Bom, ainda bem que eu sou formada, né? Vou dar um jeito de abrir um
consultório, sei lá. Tenho uma graninha guardada. Passar bem!”
Você já ouviu falar em divórcio
de amigos? Se ainda não, acho que posso alegar que inventei o termo. E, no processo,
eu fiquei com o “filho”. Apesar de também ter uma grana guardada, não me vejo
fazendo nada a não ser atuando na agência. Será que eu estava errado sobre o
meu constante pensamento de que uma faculdade não era necessária? Diante de uma
amizade que ruiu, agora vejo que velhas ideias podem sofrer transformações.
A crueza com que fui tratado pela
minha melhor amiga foi cravada com a expressão “passar bem”. Tipo, um jovem que
diz isso para outro não demonstra apenas que vocês tem um lance superficial,
mas que os pés estão tão acima do chão que a superfície é considerada
intimidade demais.
Por conta disso, pra dar uma
anuviada, inventei uma balela de um recesso temporário. Dispensei Madonna
provisoriamente e decidi que ia ficar as primeiras semanas de Janeiro de folga.
Esta é a terceira semana do
primeiro mês do ano. Caí na besteira de abrir a caixa de e-mail logo de manhã.
Foi só tirar um tempo de folga da agência e a caixa de entrada está abarrotada
de mensagens, e estou impressionado por quase não haver spam, mas sim centenas de possíveis clientes desesperados por um
serviço profissional de desapaixonamento. Aqui vai um pouquinho dos bastidores
da ANNA: a gente sempre separou o joio do trigo já nos primeiros contatos, isto
é, Milena e eu já manjávamos quem realmente precisava de ajuda e quem apenas
tava de frescurinha (“meu crush não
me nota, me ajudem ou vou morrer”). Milena responderia este tipo de e-mail no
seu melhor estilo. Provavelmente diria “não se preocupe, querida, as pessoas
geralmente não são notadas por seus crushes.
E, pra não morrer, uma barra de chocolate dá um jeito”. Se bem que, após o
ocorrido com o último cliente zona mortal que tivemos, ela teria dobrado a
vigilância com esse povo que ameaça morrer. E isto me leva a três pontos
perturbadores: Milena e eu estamos separados. Drasticamente separados. De uma
forma que eu não poderia prever, o que me leva ao segundo ponto: eu ainda a
conheço? Eu ainda posso ousar dizer que a conheço? As pessoas mudam, verdade
seja dita, mas algumas mudam a ponto de perderem certos traços característicos,
elementos pelos quais sempre foram conhecidas e reconhecidas. E a terceira
situação, aquela que já começa a dar pontadas de estresse: como vou dar conta
da ANNA sozinho? Cada um de nós costumava pegar dois ou três casos por semana,
e esse número vai cair pela metade. E, de acordo com minha indisposição
emocional (pô, eu perdi a minha melhor amiga!!), a tendência será pegar ainda
menos casos, já que a presença da Milena era responsável por boa parte da minha
motivação para trabalhar com o desapaixonamento. Espera! Será que...? Não! Devo
ir até ela e implorar que volte?
Enquanto tenho esses devaneios,
meu olho bate num trecho interessante de uma das mensagens que havia aberto.
Algo que mexe com minha curiosidade e senso de aventura. O tipo de coisa que eu
curto no meu trabalho. Essa moça de vinte anos, publicitária, tem um objeto de
paixão que, segundo ela, se parece muito com o Harry Potter. Segundo ela,
precisa se desapaixonar desse cara o quanto antes porque estará se mudando do
Brasil em dois meses e não tem um bom histórico com relacionamentos à
distância.
Pode ser uma boa. Não custa nada
marcar um encontro lá no escritório. Se for perda de tempo, pelo menos terei
algo com que me divertir. Ah, ora, a quem quero enganar? Eu simplesmente adoro
Harry Potter.
“Então você está apaixonada por esse cara só porque ele parece muito o
Harry Potter?”
O nome da moça é Sharma. De
acordo com ela, o motivo desse nome é por causa do seu pai indiano. Não quis
comentar nada sobre achar que eu já tinha visto Sharma outras vezes, mas como
sobrenomes. No entanto, não estamos aqui pra isso. E eu já estou acostumado com
o incomum. É o meu trabalho.
“Sim”, ela responde. Parece mais jovem do que é, e tal como uma
menina a descobrir a vida, ela fica olhando tudo ao redor. Está maravilhada. E
olha que a minha sala é tão simples.
“Qual é o nome dele mesmo?”
“André”.
“Ok. Sharma, me desculpe se eu parecer meio duro, mas você está
nutrindo sentimentos por uma pessoa só porque ela tem traços semelhantes a um
personagem de um livro?”
“Livros”, corrige-me ela. “Ah,
e filmes também. E Harry Potter é muito mais do que um personagem. Harry Potter
é vida! Ué, você não disse que gosta?”
“Mas eu gosto!”
“Não tá parecendo”, ela me contraria.
“É, eu costumava achar que eu era... fã. Mas aí eu conheci você”,
provoco, mas com um sorriso no rosto, para não espantar a cliente. “Me explique uma coisa: o André se parece
mais com o Harry das ilustrações dos livros ou com o Daniel Radcliffe?”
“Um pouco dos dois. Mas acho que ele puxa mais pro Daniel, sabe?
Amo/sou”.
Sharma me estende o celular, com
uma foto sendo exibida na tela. É o tal do André.
“Hum. É, ele tem uma ligeira semelhança mesmo”, analiso.
“Ligeira? Nossa! Ele é a cara do HP. E a cada dia eu fico mais e mais
apaixonada. Olha, Sávio, não tô sabendo lidar”.
“Entendo”.
“Já conversei algumas vezes com ele pela Internet. A gente tá no mesmo
grupo de Potterheads no WhatsApp
também... Mas ele ainda não sabe que eu gosto dele. É que eu não quero dizer,
entende? Eu já tô sofrendo. Daqui a dois meses eu vou estudar na Irlanda e não
sei quando volto. Aff, queria estar morta”.
“O que exatamente aconteceu com seus outros relacionamentos à
distância?”
“Apenas umas coisas chatas. O meu primeiro namorado à distância morava
em São Paulo. Depois de um mês fazendo todos os combinados pra nos encontrarmos
lá, ele me revelou que era apenas um moleque de nove anos que usava o computador
da escola pra zoar. Na verdade, eram vários moleques de nove anos, de uma
escola pública. É que eles se revezavam. Eu sei, eu devia ter percebido porque
um dia ele escrevia num português ruim, mas no outro ele escrevia num português
ainda pior. Você não imagina o tamanho da minha frustração. Eu já tava pedindo
folga do trabalho só pra poder viajar pra lá, sabia? Ainda bem que eu tenho um
critério rigoroso de só mandar nudes
depois de três meses de contato. Me livrei de uma baita enrascada”.
“Certo”, respondo, disfarçando estar meio escandalizado com uma das
partes do que ela relatou, mas quero continuar agindo como se não tivesse
ouvido algo tão inesperado.
“Algum problema, Sávio?”
“Não, não, tá tudo bem”, digo, ainda escondendo o quanto fiquei surpreso,
mas não dá pra me conter. “Olha, você tem
certeza que esses meninos eram de escola pública? Quero dizer, as escolas
públicas têm computadores com acesso à Internet? É que isso não parece Brasil”.
“Certeza absoluta”.
“Ok”, melhor dar prosseguimento ao que importa. “Mas essa foi sua única experiência com
relação à distância?”
“Não”, ela se envergonha. “Tive
outra bem pior”.
“Uau! O que pode ser pior do que ser tapeada por alguns guris usando um
computador?”
“Bom, foi com um ex-namorado que morava em Belém. Eu viajei até lá
depois de saber que ele tinha começado a namorar outra garota. Eu fiz um grande
escândalo na porta do prédio dele, taquei ovos na janela do apartamento, fiz
xixi na calçada, mas tinha algo que não fazia sentido”.
Acostumado com essa espécie de
estranheza, arrisco adivinhar:
“Era o prédio errado?”
“Não. Era a cidade errada. Eu tinha ficado muito bêbada antes e acho
que expliquei errado pro taxista onde era o endereço. Só sei que eu fui parar
numa cidade chamada Castanhal. Mas não importa, o que conta é que minhas
experiências com relacionamentos à distância foram traumatizantes. Imagina
agora, que eu vou pra Irlanda”.
“É. Suas histórias são muito curiosas, fico imaginando o tamanho dos
danos emocionais. E financeiros, no caso desta última história. Mas quer saber?
A ANNA vai pegar o seu caso”.
“Yes!”, vibra ela. “Melhor
pessoa você, Sávio”.
“Que bom! Vamos dar um avada kedavra nessa sua paixão inviável!”
“Vai ser uma pena, mas... vamos!”
“Vou te dar um formulário”.
“Sabe o que seria uma boa ideia?”, ela fala como se estivesse se
lembrando de algo. “Você participar do
Encontro de Potterheads que vai rolar
amanhã. Que tal?”
Adicionar mais diversão a esse
caso mágico? Pode apostar que sim!
Estou num elevador, subindo para
um apartamento no oitavo andar de um prédio. Quando Sharma me deu as
coordenadas para chegar à tal reunião, bateu um pavorzinho por causa do meu
trauma com oitavos andares. Anna aceitou vir comigo. Estamos ambos fantasiados
de personagens da saga Harry Potter.
Eu de Professor Snape, que sempre foi um dos meus personagens favoritos e ela
de Hermione Granger, numa versão muito sexy
por sinal.
“Sabe, amor, sempre que eu tô num elevador, fico imaginando se ele vai
quebrar”, diz Anna.
“Sério? Isso não é muito legal de se ouvir, sabia? Dá até um certo
ciúme. E se você ficar presa, sei lá, com algum ator musculoso bonitão?”
“Ué! E o que eu faria com um ator musculoso bonitão se eu tenho o meu
fofinho que eu adoro?”
Ela finaliza a fala apertando
minha barriga. E é nesse momento que eu noto que estou com algumas dobrinhas
salientes projetando-se do meu abdômen como visitantes inesperadas e
indesejáveis. Peraí, ela me chamou de fofinho porque estou ficando...
“Chegamos”, avisa ela, enquanto eu discretamente me apalpo e vou
notando as “novidades” em meu corpo. Como eu não me liguei nisso antes?
Caminhamos até o apartamento 934.
Toco a campainha duas vezes. Do lado de cá, dá pra escutar uma certa
movimentação. Provavelmente tem um monte de nerds
se confraternizando em nome do bruxinho mais famoso do mundo. Enquanto alguém
deve estar vindo atender a porta, pondero se essa não poderia ser uma ocasião
bacana pra fazer novos amigos, conhecer pessoas que possam me acrescentar
momentos de alegria e companheirismo. Como alguém que curte HP pra caramba, eu
também tenho conteúdo a oferecer. Espere! Estou aqui a trabalho. Preciso me
manter profissional. Já não lembro qual mandamento da ANNA eu estaria
quebrando. Mas agora que sou o único responsável, será que é necessário manter
todas as regras como sempre foram?
“Oi”, uma moça de traços orientais e trancinhas nos recebe.
“Cho Chang!”, exclamo, com a falsa intimidade mais estúpida e
inconveniente possível. Droga! O que foi que eu acabei de pensar sobre manter o
profissionalismo? Já era. Minha mão já está estendida para cumprimentá-la.
“Ok, Prof. Snape”, ela aceita apertar a minha mão, olhando-me
desconfiada. “Eu sei que sou japa e tal, mas não tô fazendo cosplay daquela insossa da Cho Chang. Entrem!”
Anna e eu entramos, um tanto
acanhados. E de fato, a moça não está fazendo cosplay de Cho Chang, pois, pela triste constatação que estou tendo
agora, ninguém está fazendo cosplay de
coisíssima nenhuma neste lugar.
“Sávio, por que você fez a gente vir fantasiado?”, Anna cochicha,
assim que a Cho Chang de araque nos aponta umas cadeiras onde podemos nos
sentar.
“Eu podia jurar que a Sharma disse que era um encontro temático”.
“Ela mencionou a palavra “fantasia” em algum momento? Ou alguma coisa
parecida?”
“Não. Eu julguei mal os nerds.
Desculpa, Anna”.
“Nossa sorte é que eles devem ser meio esquisitões, por isso nem
demoram olhando pra nós. Esse tipo de coisa deve ser normal pra eles”.
“Verdade, você tem razão. Cinquenta pontos para a Grifinória!”
Ela sorri e alisa minha perna
gentilmente. O tal André passa por nós. Ele é tão parecido com o Harry que
poderia ser um terceiro fantasiado na festa. Exceto que, supostamente, Harry
não usaria bermuda cáqui, camiseta com estampa de surf sem mangas e um par de havaianas.
“Sávio! Que bom que veio!”, surge Sharma, também vestida como uma
pessoa normal.
“Oi, Sharma. Essa é a minha namorada Anna”.
“Ué? Mas... Ah, então é por isso que a empresa se chama ANNA? Eu não
sabia...”
“Longa história”, Anna se apressa em desfazer possíveis
constrangimentos. “Prazer! Seu
apartamento é muito bonito. Bastante espaçoso também”.
“Valeu. Pôxa, vocês vieram caracterizados. Caramba, que top!”
“Que bom que gostou”, alegro-me. “Eu também achei maneiro que o número da sua casa é 934. Você deve ter
adorado isso, né? Plataforma 9 ¾, hahahaha!!”
“Ah, quem me dera se fosse assim. Na verdade o número é 984, eu que
raspei um pedaço do 8. Coisa de fã, né?Mas amanhã eu conserto isso”.
“Hum”, lamento. “Mas e aí?
Qual é a programação da grande noite?”
“Como assim? Que grande noite?”, ela me indaga como se eu tivesse
acabado de dar uma palestra em mandarim sobre física quântica.
“Não é um encontro pra fãs de Harry Potter? O que vai rolar? Algum workshop ensinando como fazer varinhas? Uma palestra
sobre os feitiços mencionados nos livros? Um bate-papo sobre os easter eggs dos filmes? Ah, aposto que vai ter cerveja
amanteigada!!”
Definitivamente, estou
embaraçosamente empolgado.
“O universo Harry Potter é tão vasto”, complementa Anna. “Nunca pensei que eu fosse dizer isso mas tô
até ansiosa por aquele filme que vai sair. Como é que é mesmo o nome? ‘Animais
que habitam em fantásticos lugares mágicos’. Meu Deus, amor! Você tá fazendo de mim uma geek”.
“O nome exato é ‘Animais Fantásticos e onde habitam’”, corrige Sharma. “Bom, não vai rolar nada disso que vocês estão falando. Eita, Giovana!! Já tô entendendo o que
aconteceu. Acho que eu não fui bem clara. O Encontro de Potterheads que eu faço aqui em casa é só uma reunião
de amigos que curtem Harry Potter, mas não pra tratar de Harry Potter, entenderam?A gente fala sobre
qualquer coisa, troca umas ideias sobre tudo, como amigos normais. Inclusive
sobre Harry Potter, que é algo que a
gente ama em comum”.
“O quê?”, pergunta Anna. “Então
por que chamar de Encontro de Potterheads? Por que não chamar apenas de reunião de amigos?”
Toco no braço da minha namorada
sinalizando que, apesar de ela estar certa, melhor não aborrecer o cliente.
“Foi mal, não queria trollar vocês. Olha, fiquem à vontade. Tem
bastante refrigerante por aí e uns mini sanduíches de queijo e presunto”.
Ela se vira especialmente para
Anna e manda um elogio:
“Miga, cê tá divando de Hermione!!”
Anna faz uma graça passando os
dedos pela peruca e devolve o elogio com um sorriso meio tímido, arrematando:
“Ah, muito obrigada... Miga!”
Sharma se distancia e vai tratar
de alguma coisa com algum de seus amigos. Tenho 29 anos e não consigo parar de
me sentir um estúpido. E esta peruca preta já tá começando a coçar, como se não
bastasse o cheirinho de gato molhado que ela fica exalando. O que deu em mim
para alugar um traje completo com peruca e tudo? Quantas outras cabeças usaram
esse troço? Pelo menos eu tenho algum alívio. Não tem coisa melhor do que pagar
um mico e ter companhia para isso.
“Tô feliz que você veio, amor”, volto-me para Anna e, do nada, digo
essas sinceras palavras.
“O que é isso no seu bolso?”, ela indica com o nariz.
Ao me apalpar, percebo que, mesmo
tenho companhia para um vexame, eu estou ganhando disparado de Anna. Tiro o
objeto do bolso que, no momento, é ainda mais inútil que todo o aparato em que
estou enfiado. Uma maldita varinha!
Além do vexame de ter aparecido
caracterizado na “””reunião de Potterheads””” (isso mesmo, muitas e muitas
aspas, aspas infinitas para expressar minha indignação com esse nome fajuto),
não consegui me aproximar tanto do André para tentar descobrir sinais úteis ao
desapaixonamento. Ele não é só fisicamente parecido com Harry Potter. Os óculos
são redondos, ele é meio introvertido e parece muito interessado em ruivas,
visto que eu o flagrei uma dúzia de vezes tentando flertar com a Anna só com o
olhar (aquele filho de uma bruxa!). Entretanto, dizer para Sharma que ele
demonstra interesse em outras mulheres não é uma arma boa o bastante para
deixá-la desiludida e decidir esquecê-lo.
Descobri que o André Potter (não
é implicância minha, o carinha se identifica assim em suas redes sociais) tem
um canal de vídeos na web onde ele
faz resenhas de livros e um negócio chamado book
haul. Essa eu tive que pesquisar no google,
porque meu inglês é mais enferrujado do que a criatividade de Hollywood
atualmente. Book Haul é um estilo de
vídeo em que o responsável pelo canal exibe os livros que ganhou/comprou.
Parece bem interessante... pra quem tem saco pra assistir. E eu tive que ser
muito pertinente para ver algumas das produções do André, apenas para fins
investigativos. Esse exercício contínuo de paciência só me rendeu uma
probabilidade de sucesso com o desapaixonamento. De acordo com um dos vídeos, uma
coisa totalmente desnecessária chamada “50 fatos sobre mim” (onde ele achou que
seria fundamental que os espectadores soubessem, por exemplo, que ele sempre
coloca manteiga nos dois lados do pão), o André não suporta gente que é muito
influenciada por memes, que usa a torto e a direito as expressões nascidas e/ou
cunhadas na Internet. Ele acha que pessoas assim carecem de mais
“originalidade” e são facilmente guiadas por todo mundo. Só depois de rir muito
dessa ironia dita por ninguém menos que o “sósia do Harry Potter”, notei que
isso podia ser extremamente útil. Ora, quem é a pessoa que mais apresenta esse
tipo de comportamento que ele alegou desprezar?
Pobrezinho do seu coração,
Sharma, mas acho que já sei como bloqueá-lo para a magia do seu amado. Para o
seu próprio bem.
E para ser honesto, não consegui
ver o vídeo por inteiro. Acho que só deu pra descobrir 15 informações sobre o
André Potter e, ainda assim, já estou esquecido da maioria delas. Bom, eu já
tenho o que preciso, então nada de gastar tempo com excesso de banalidades.
Essa coisa toda me fez lembrar
que minha coleção de Harry Potter
está desfalcada. Achei de emprestar “O Enigma do Príncipe” para um amigo
chamado Kellison que, na certa, entendeu mais como uma doação do que um
empréstimo. Kellison cometeu inúmeros delitos com meu exemplar do volume 6 da
saga: páginas com orelhas, marcações em palavras que aparentemente ele não conhecia
o significado, além de umas manchas marrons muito suspeitas (as quais eu fiquei
torcendo que fossem de chocolate, mas um odor bastante peculiar até hoje me faz
imaginar que eu estava enganado).
Parei numa livraria bem-servida
de todo tipo de literatura. Faz vários meses que não piso em uma, na verdade. E
estou um tanto impressionado com o quanto os livreiros estão cada vez mais
descaradamente comerciais. Sei que parece óbvio, já que é um ramo do comércio,
mas as prateleiras principais estão abarrotadas de best-sellers de autores internacionais que estão ganhando um hype danado porque seu livro baseou o
filme X ou tem relação com a série Y. Um pouco mais para o lado, uma pilha de
romances eróticos. E eu que havia pensado que a modinha 50 tons tinha dado uma
trégua... Há outras pilhas com livros cujos autores nem sequer são
“escritores”, no sentido profissional do termo, alguém que tem uma carreira
baseada em produzir conteúdos literários. O que eu vejo aqui são obras
caça-níqueis, de supostas celebridades com seguidores fiéis no Youtube ou de semianônimos que um belo
dia acordaram e, por conta de qualquer bobagem pela qual ficaram famosos,
decidiram que era hora de lançar um livro. Este é um tipo de produto que eu não
me arriscaria comprar. No entanto, cada um com suas preferências. Você faz o
que quiser com seu dinheiro, né? E, se o vento está soprando pra essa direção,
por que as editoras e os livreiros não se renderiam?
“Com licença, moça, você poderia me dizer onde estão os livros do Harry
Potter?”, solicito à primeira atendente com que me deparo.
Ela está de costas, mas
estranhamente há algo de familiar nela. E então ela se vira:
“Sávio!”
Rita Lina, em carne, osso e um
sorriso de satisfação do tamanho da Rússia, em seu mais novo emprego.
Ela insistiu para que tomássemos
um café juntos. Com base no nosso estranho histórico de já termos ficado uma
vez (ocasião da qual, não tem jeito, eu simplesmente não consigo me lembrar),
não sou muito chegado a ficar a sós com ela. Sei que ela deve ter algum
problema mental, mas ora, eu tenho o direito de me sentir desconfortável perto
de alguém, certo? E quando ela começar a tagarelar sobre alienígenas ou alguma
outra coisa sem-noção? E eu só vim atrás do “Enigma do Príncipe”...
Todavia, aceito o convite porque
ela falou que seu namorado está chegando para se juntar a nós. Ufa, menos mal.
“Ali vem ele”, anuncia ela, acenando para o tal namorado, que vem
caminhando em nossa direção.
Ele se aproxima de nós, senta-se
e me cumprimenta com a cabeça.
“Sávio, esse é o meu Pokémon, o Denner”, diz Rita. “Pokémonzinho, esse é o Sávio, meu
ex-patrão”, ela finaliza as apresentações.
Denner e eu trocamos um aperto de
mão. Ao contrário do que qualquer ser humano normal diria, ele sussurra:
“Uau, esse cara tem um cheiro gostoso!”
“Obrigado”, é o que me resta dizer, totalmente sem-graça.
“Desculpa, eu não entendi”, responde Denner.
Rita olha para ele com um ar de
riso maternal, como quando um filho diz ou faz alguma tolice. Depois, se volta
para mim e explica:
“O Denner sofre de pensamentos orais. Isso que você ouviu ele dizer, na
verdade ele não quis dizer, apenas pensou. Só que saiu pela boca”.
“Meu Deus, cara!”, envergonha-se ele. “Você... você escutou sobre eu querer degolar você por estar com a
minha garota? Desculpa, desculpa mesmo. Não é verdade. Eu jamais faria isso, eu
sou bastante inofensivo, na verdade”.
Denner parece bem desesperado.
Mas aposto todas as fichas que não está mais do que eu, neste exato momento.
“Hum... Tá. Ok, tranquilo, cara”, é só o que consigo dizer. Beleza,
agora temos Rita Lina disponível em dois gêneros. Venha buscar a sua antes que
amplie o estoque!
“Relaxa, amor”, ela conforta o namorado. “O Sávio e eu nunca fomos mais do que... amigos”, ela novamente
torna a olhar pra mim, só que desta vez com mais ênfase, como se nós fôssemos
cúmplices de algum crime.
“Tá certo”, ele concorda. “Eu
vou até o balcão pedir um café, beleza? Já volto”.
Enquanto ele vai, eu dou uma
rápida observada. Ele é magro, cabelos ondulados bastante volumosos, que ou ele
se esqueceu de pentear ou ele deixou bagunçado assim mesmo porque tem alguma
criatura vivendo sob aquelas madeixas e, por educação, não quer importuná-la.
“Onde você encontrou essa figura?”, pergunto sob uma atmosfera mais
relaxada, realmente interessada no tipo de história que pode tê-los unido.
“De certa forma, ele que me encontrou. O Denner trabalha na capela
funerária onde meu corpo tava sendo velado. Segundo ele mesmo, quando me viu
levantar do caixão, caiu de amores por mim. Tipo essas coisas de amor à
primeira vista, sabe? Eu acho que ele só falou isso pra me conquistar, mas não
posso negar que ele é um fofo. Bom, depois do que rolou na capela funerária,
ele nunca mais parou de me seguir. Em todo lugar que eu ia, ele aparecia. Até
que tomou coragem e me convidou pra sair. E não é que o espertinho deu sorte?
Você acredita que ele tem todas as temporadas da Voz do Brasil?”
“Desculpe, acho que não ouvi direito. Você disse Voz do Brasil?”
“Sim, aquele programa que passa no rádio. Ou passava, sei lá. Só sei
que a gente marcou um encontro numa praça e ele levou no celular vários
episódios da Voz do Brasil pra gente
escutar. Só não foi perfeito porque roubaram o celular dele, mas... É a vida,
né?”
“Tem certeza que você quis dizer ‘episódios’?”
Rita Lina suspira, visivelmente
apaixonada.
“Não é de se admirar que você se apaixonasse por um cara como... ele”,
comento.
“Com certeza. Mas eu entendo uma coisa com isso, e tem a ver com o
tempo que passei trabalhando pra você: do mesmo jeito que cada pessoa tem um
motivo pra se desapaixonar e que às vezes a gente não entende, pois parece não
fazer o menor sentido, o inverso também é assim. A paixão não faz sentido. O
sentimento que começa a ser gerado por alguém está ali apenas para ser
experimentado, vivido. Explicações são inúteis e irrelevantes nesses casos.
Sabe por quê? Porque para o apaixonar e o desapaixonar, cada coração é um
coração”.
Senhoras e senhores, Rita Lina
não só tem contatos extraterrestres, mas pelo jeito também aluga o corpo para
ser possuído por Sócrates de vez em quando.
“Uau! Belas palavras”, admito.
“Culpa do café daqui da livraria”, ela diz, ao mesmo tempo em que
se inclina um pouco para me confidenciar o seguinte: “Desde que eu comecei a tomar o café daqui, de vez em quando eu viajo
na maionese. Tenho uma teoria: acho que eles trituram páginas de livros e coam
junto com o café, pra dar uma encorpada, sabe? Ontem mesmo eu comecei a
declamar Castro Alves do nada”.
Senhoras e senhores, Sócrates já
se mandou.
“E como estão as coisas com Você-Sabe-Quem?”, indaga ela,
bebericando seu café encorpado com páginas trituradas de livros.
“Quem, a Milena?”
“Sim”.
“Por que a chamou de Você-sabe-quem? Achei que gostasse dela”.
“E eu gosto dela. O que tem a ver uma coisa com a outra?”
Estou tão mergulhado no caso da
vez que achei que Rita estivesse comparando Milena ao arqui-inimigo de Harry
Potter.
“Não sei dizer”, minto, mas sem ter total certeza se isso é mentira
mesmo. “Ela tá sumida e eu não fui atrás
dela. Eu levo bem a sério quando alguém diz que quer se afastar de mim”.
“Que chato!”
Denner retorna com uma xícara de
café fumegante.
“Então, Sávio, a Rita tava me contando sobre o seu... negócio ou sei
lá, sua empresa. Ela disse que vocês desapaixonam as pessoas. Cara, jamais
imaginei que isso existisse”.
“É. Seria mais correto dizer que a gente ajuda as pessoas a se
desapaixonar. E, pois é, isso existe”.
“Achei fascinante”, ele diz. Pela luz que cintila em seus olhos,
achou mesmo.
“Tá trabalhando em algum caso?”, pergunta Rita.
“Estou sim”.
“Uau!”, empolga-se Denner. “E
pode falar pra gente? Como é esse caso? É algum cara que se apaixonou por uma
artista de circo e nunca mais vai vê-la? Já sei! É uma mulher que se apaixonou
pelo enteado e descobriu que na verdade ele é o filho dela que havia sumido 30
anos atrás e que agora está de volta para vingar a morte do seu verdadeiro pai
que não é o pai que ele pensava que é, no caso o atual marido de sua mãe
verdadeira e...”
“Denner, Denner, xiiiuuu!!”, Rita o pede gentilmente para ficar em silêncio,
afagando-lhe o ombro.
“Pensamenos orais de novo?”, arrisco e, pelo semblante
desconcertado de Denner, acertei.
Como eu já pedi uma segunda
xícara de café (não servem chá gelado aqui, que tipo de livraria chinfrim é
essa?), vou dando alguns detalhes a eles. É como contar histórias para
crianças:
“Bom, tem essa cliente, a Sharma. Ela tem uns vinte anos e tá muito a
fim de um rapaz que é a cara do Harry Potter. E a Sharma só se apaixonou por
ele porque ela é muito fã da saga. Não sei direito como isso funciona, mas o
carinho que ela tem pelo personagem se transformou em sentimento, em atração
física. Sei lá, acho que é como se ela pudesse ter uma chance de namorar o
próprio Harry, entenderam? Só que ela tem medo de começar um relacionamento
porque tá indo embora do Brasil e tem traumas de namoro à distância. Aí eu dei
uma investigada preliminar nele e descobri algo que pode ajudar”.
“Tem uma foto dele?”, pergunta Denner.
Apesar de achar uma pergunta
incomum, algo que beira o inconveniente, que mal haveria nisso? Saco o celular
do bolso e mostro para ele.
“Ué, mas ele não tem a cicatriz de raio na testa. Não é tão parecido
assim”, examina Denner. E eu fico na dúvida se isso é um pensamento oral ou
não.
“Mas o que você queria, meu Pokémon? Se ele tivesse um raio, eu ficaria
preocupada. Sinal de que poderia haver um Lord Voldemort por aí”.
“Ele anda com algum velho da barba branca e cara de muito sábio?”,
sonda Denner.
“Não, Denner”, respondo, e um desconforto vai tomando conta do meu
ser. “Ele não anda com um cara parecido
com o Dumbledore”.
Gente, o que é que eu tô fazendo
aqui com esses malucos? Será que a teoria da Rita Lina sobre este café ter
alguma substância suspeita tem fundamento? Por que ainda não dei no pé?
“Bom, galera, foi um prazer”, preparo uma despedida.
“Mas já?”, ambos dizem, em uníssono.
“Sim. Eu realmente tenho que trabalhar duro nesse caso. Agora que eu tô
tocando a agência sozinho, não posso me dar ao luxo de muita folga. Valeu pela
companhia!”
E me levanto. Mas percebo que o
celular ainda está nas mãos de Denner, então permaneço de pé, encarando-o, para
que se toque de que eu quero meu aparelho de volta.
“Ei! Esse cara não se parece tanto assim com o Harry Potter”, diz
ele. Mas nada de me devolver o celular.
“Sim, Denner, você já disse isso”, retruco com bastante gentileza. “Mas a Sharma já viu que o André não tem
nenhum raio na testa, então não vejo como isso pode fazê-la se desapaixonar.
Agora, se não se importa, poderia devolver o...”
“Não, não tô falando do raio”, insiste ele. “Imagina esse cara sem os óculos. Ele não lembra em nada o Harry
Potter”.
Reviro os olhos, profundamente
impaciente. Não é todo dia que dá pra tomar duas xícaras de café com dois
birutas. Preciso cair fora daqui.
“Tudo bem, Denner, eu vou imaginar, ok? Agora, por favor, o celular”.
“Ah, claro. Foi mal”.
E saio, antes que um deles
resolva dar mais alguma ideia brilhante sobre como me ajudar com meu trabalho.
“Ele disse isso mesmo?”, Sharma volta a me perguntar pela décima
vez.
“Vamos deixar que você mesma veja”, eu aciono o vídeo dos 50 fatos
sobre o André.
Após passar pelo fato número 7,
no qual o Harry Potter genérico afirma aquilo que vai servir para o meu intento
de ajudar Sharma, o semblante dela fica visivelmente tristonho.
“Ele sambou na minha cara”, ela lamenta.
“Ele não citou você. Apenas generalizou”.
“Mas eu ainda sinto a mesma paixão por ele. Você disse que eu ia me
desapaixonar depois de ver isso”.
“Não, eu não disse isso. Quer dizer, não assim. O desapaixonamento não
ocorre imediatamente. O que acontece é que a pessoa se toca de algum detalhe
que começa a ir quebrando a ilusão, entendeu? Você deixa de enxergar a pessoa
com todo aquele encanto”, explico.
“Bom, mesmo assim, eu acho que não tá funcionando. Onde fica o
banheiro?”
Oriento-lhe como chegar ao
banheiro da agência enquanto vou preparando mentalmente meu discurso. Aqui na
ANNA a gente não apenas mostra ao cliente as possíveis evidências de
características do objeto de paixão que possam ser úteis para o
desapaixonamento. Isso vem acompanhado de algumas considerações verbais que
endossam as tais possíveis evidências, para firmar na mente do cliente a ideia.
“Nós” é só jeito de falar. Eu tô
mais sozinho do que o Tom Hanks em Náufrago.
E nem mesmo tenho uma bola de vôlei pra trocar uma ideia. É isso aí, cheguei ao
cúmulo de desejar que tivesse um Wilson perto de mim.
Sharma está de volta. Sem
pestanejar, começo a dizer:
“Bom, eu achei pertinente te mostrar isso porque pareceu muito claro
que uma relação entre vocês seria muito complicada. Tipo, que relação não tem
suas complicações? O caso é que o André insiste no quanto ele não gosta de quem
não soa muito ‘original’ pra ele. E se você começar a falar com ele usando
essas gírias de Internet que você tanto usa, facilmente vocês brigariam e só
Deus sabe o quanto vocês se magoariam. Dá pra notar que você é muito intensa e
sentimental, então uma coisa tão pequena como essa poderia evoluir e te
machucar bastante. O que estou tentando fazer aqui é garantir que você vá
embora pra Irlanda sem nenhum desentendimento com o seu crush”.
Sharma me encara com as
sobrancelhas franzidas, enquanto eu tento disfarçar que não acabei de agir
igualzinho a ela.
“O que é isso?”, ela nota que o vídeo ainda está rodando, exibindo
o número 43. Mas está no mudo. “De quem é
esse vídeo?”
“Como assim? É o vídeo do André ainda. Quer que eu aumente o volume?”
Fitando a tela do computador um
tanto confusa, Sharma assente com a cabeça, então eu aumento o volume um pouco.
Neste fato 43, André está sem óculos comentando que raramente fica sem eles
porque precisa usá-los o tempo inteiro, então ele acaba removendo-os neste
instante do vídeo, apenas para “saciar a curiosidade dos fãs”, segundo suas
próprias palavras. Fala sério, esse guri se acha! Será que só isso não seria
motivo suficiente para desligar o coração da Sharma dessa afeição? Ah, essas
coisas que a paixão apronta...
“Esse cara não é o André”.
“Sharma, olha o título do vídeo. Olha a roupa, o cenário. É o mesmo
vídeo”.
“Só que não!”
“O que foi que te deu, hein?”
“Meu Deus!”, ela exclama, constatando: “Então é assim que ele fica sem os óculos? Mas que sem-graça! Nossa,
como ele é... feio! Parece que eu caí dentro de uma penseira e estou
descobrindo verdades terríveis”.
“Só pode ser brincadeira”.
“E o pior de tudo”, complementa ela. “Além de não ter nada a ver com o Harry, agora ele tá mais parecido com
o Percy Jackson. E eu odeeeeio Percy Jackson!!”
Nem preciso dizer mais coisa
alguma. Além de ter saído bem melhor do que eu imaginava, apesar de bem
diferente do que eu previ, Sharma está satisfeita com o serviço. E desapontada
com a “verdadeira identidade” de André Potter. Ou devo dizer André Jackson?
“Valeu, Sávio! Seu trabalho foi mara! Mitou, hein!”
“É... Obrigado...”, meu sorriso aparece encabulado.
“Bom, tô desparatando”, essas são suas últimas palavras. Nada mais “potteriano”
para uma despedida.
E eu volto meu olhar para a tela
do computador. O vídeo dos 50 fatos do André já acabaram há um bom tempo, e
outro iniciou automaticamente (ao qual eu nem estou dando muita trela, na
realidade). Tive tanta dificuldade em conceber uma boa ideia para solucionar
este caso. E, no fim das contas, a solução não veio de mim.
E se...?
Não!
Será?
Quem sabe...
Quem sabe se eu batesse um
papinho com o excêntrico namorado de Rita Lina. Assim como os desfechos dos
casos da ANNA, às vezes é bom dar ouvidos a pessoas tão “singulares”. Embora
minha mente esteja trabalhando em alguma forma de negação, em insistir que
houve uma coincidência absurda aqui, algo martela dentro de mim, fazendo-me ter
de admitir: o tal do Denner foi um verdadeiro gênio.
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