O Amapá tem se mostrado um
celeiro frutífero de escritores, que cada vez mais tem buscado seu espaço, seja
através da publicação de livros ou a simples participação em grupos organizados
de poesia e artes integradas. Num mar de autores produtores de textos poéticos,
alguns se destacam pela afinidade maior com a prosa. Depois de surpresas
agradáveis na literatura jovem amapaense, como Samila Lages e Antonio
Fernandes, mais um novo prodígio marcou seu début
literário: Elielson Junior, um macapaense de apenas dezenove anos.
O romance de estreia de Elielson,
A Anfitriã, lançado pela editora
Multifoco através do selo Desfecho Romances (2014, 227 páginas) tem um apelo
bastante juvenil, com uma história narrada numa linguagem enxuta e direta,
extremamente acessível. Os personagens, dos quais nenhum é necessariamente
protagonista, são estudantes adolescentes que levam uma amizade dentro e fora
da escola, cada um com seus próprios dramas, conflitos e segredos obscuros relacionados
a toda sorte de problemas que um adolescente pode enfrentar. Os personagens se
revezam enquanto narradores do livro, expondo assim a história sob pontos de
vista muito pessoais, o que nos permite uma relação mais direta com os pensamentos
e ações deles.
O título do livro se deve ao fato
de que uma “entidade misteriosa” promete acabar com a vida de todos os
personagens, moralmente falando, já que conhece segredos e mentiras que rondam
as vidas deles. Os jovens são intimados a comparecer numa mansão abandonada,
convidados por essa pessoa misteriosa autointitulada “anfitriã”. Envoltos em
tensão, o cotidiano de cada um deles começa a sofrer abalos por conta da
iminente desconfiança que passa a cercá-los, já que é muito possível que a tal
anfitriã esteja mais perto do que imaginam.
Apesar do clima de thriller, a
prosa de Elielson ganha momentos que muitas vezes quebram o ritmo tenso, como
em algumas sequências com apelo mais humorístico ou cenas de conversas banais
entre os personagens. O foco mesmo é brincar com a sensação provocada por
livros de suspense e, no caso desta obra em particular, o mistério sobre a
identidade da anfitriã e outras verdades inesperadas, que realmente podem te
deixar de boca aberta.
Mesmo estreante, Elielson já
participou de diversos eventos literários, como a Bienal do Livro em São Paulo,
além de ter seu livro resenhado por vários blogs internet afora. Porém, sua
vida autoral vem sendo moldada há mais tempo que isto, já que sempre bebeu de
fontes abastecidas por autores célebres, como J.K. Rowling e Agatha Christie.
Então não se deixe enganar por A Anfitriã
ser um romance com protagonistas jovens ou porque a linguagem não é rebuscada
(caso isso seja termômetro para você julgar uma obra boa ou não). O autor já
prometeu uma sequência e, como os escritores tendem a evoluir, muito
provavelmente o próximo livro trará uma maturidade literária e ficcional ainda
mais surpreendente.
Publicado originalmente no periódico Expresso Pena e Pergaminho, do grupo poético Pena e Pergaminho no segundo semestre de 2014
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