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7 de abril de 2017

DESAPAIXONANTE --- EPISÓDIO 4x04: A COLEÇÃO



Pergunta: Há quanto tempo você e seu namorado estão juntos e como vocês se conheceram?

ENTREVISTADA #1
ÁGATA BATISTA, 31, VETERINÁRIA

“Ok. Bem, a gente fez três anos em Abril. Olha, te confesso que eu nem vi o tempo passar. Parece que essa relação ainda é uma novidade total pra mim. Agora, sobre como a gente se conheceu... Bem... Nossa! Dá pra ver que eu tô meio emocionada agora, não dá? É que é difícil falar disso, sabe... Tem um contexto triste. Tipo, meu namoro com ele é maravilhoso. Mas é difícil falar disso sem mencionar que eu tinha sido casada antes de conhecê-lo. Por cinco anos. Noooossaaa... Olha... Foi um casamento bem... Ai, desculpa, é que dá um nó na garganta. Desculpa mesmo... Bom, o caso é que fazia uns onze meses que eu tinha me separado e eu tava com o coração fechado pra outros relacionamentos. Eu tinha perdido totalmente a esperança de encontrar alguém que pudesse valer a pena. Eu tinha passado por um trauma com um ex-marido alcoólatra, inclusive eu cheguei a ser agredida por ele... Então... Foi o fim da picada. Ai, me desculpa...”


ENTREVISTADA #2
CYNTIA FREITAS, 24, ESTUDANTE DE DIREITO

“Certo. Em Julho fizemos dois anos juntos. Esse namoro é uma bênção pra mim, não existe outra forma de explicar, entendeu? Eu sou evangélica e acredito que o meu namorado é um verdadeiro presente de Deus pra minha vida. Eu sei que hoje em dia muitas mulheres repudiam quando uma mulher valoriza um homem, porque pensam que isso é dar poder pro homem fazer o que quiser com você. Sim, é verdade que existem muitos homens que não prestam por aí, que tiram proveito disso, talvez a maioria. Mas eu digo com toda a confiança que o meu namorado é um homem maravilhoso e eu o amo muito. Ele apareceu num momento da minha vida que eu tava querendo desistir do meu sonho de estudar Direito. Meu pai perdeu o emprego e assim ficou difícil continuar pagando a faculdade, sabe... E o meu namorado não hesitou em assumir essa responsabilidade. Inclusive, foi num congresso de Direito que eu tive meu primeiro contato com ele. Foi paixão à primeira vista, ainda mais com aquele jeito tão charmoso que ele tem. Hahahahaha!!! Nossa, eu pareço uma menina ingênua de filme romântico, né? Ah! A gente já sofre com tanta coisa na vida, né? Eu penso assim: se você tem a chance de ser feliz, seja. E é isso que eu tô fazendo, com a graça de Deus. Eu queria que ele frequentasse a igreja comigo. Só falta isso pra ele ser o homem mais que perfeito. Mas eu tenho paciência. A gente aprende a cultivar a paciência quando ama. Hahahahahaha!!!”


ENTREVISTADA #3
JULIANA MAIA, 29, YOUTUBER, DJ E FOTÓGRAFA

“Hummm... Se eu bem me lembro, ele foi simples e direto. Chegou logo elogiando os meus cachos e dizendo que se não tivesse perdido a cafonice, seria capaz de compor uma releitura daquela música do Caetano Veloso. Aquela ‘Debaixo dos caracóis’, cê deve conhecer, né? Meu pai adora essa música. Apesar de parecer realmente bem cafona, não deixou de ser fofo, né? Foi numa festa de amigos em comum. Depois dessa cantada metida a engraçadinha, não resisti a querer conhecê-lo um pouco mais, e assim a gente passou boa parte daquela noite tagarelando sobre tudo que você pode imaginar. Eu amo muito ele, sabe. Queria que a gente se visse mais, mas infelizmente nossos trampos não permitem, nossas agendas não batem direito. Mas mesmo assim ele é o meu grande companheiro, o meu par perfeito, hahahahaha!!! Olha, acho que é a primeira vez que eu me abro desse jeito sobre o meu namorado, hein. Geralmente eu sou muito reservada. Enfim, apesar dos trancos e barrancos, já estamos juntos há um tempão”.


ENTREVISTADA #4
ROSANE KIMURA, 32, PROFESSORA DE ENSINO ESPECIAL

“Eu sou professora de alunos especiais. Deficientes auditivos, visuais e também intelectuais. Um belo dia, ele foi buscar o filho de um amigo e me tratou com toda a simpatia do mundo, perguntando sobre o desempenho do Leozinho. Não vou te garantir que ele realmente estava com todo aquele interesse no garoto ou se só tava tentando ganhar minha afeição, mas o fato é que o danado conseguiu. Ele consegue ser encantador de uma forma muito natural, entende? Diferente de outros homens, que ficam todos desajeitados perto de uma mulher. Bem, a gente se conheceu ano passado, mas parece que já faz décadas. É, juro pra você. O jeito como ele se permite ser tanto namorado como amigo. Sempre me apoia, me ouve, me surpreende. Eu tenho orgulho de ser namorada dele. Eu tive poucos relacionamentos na vida. E atualmente eu atendo seis alunos. Parece pouco, mas são crianças com dificuldades muito delicadas, e isso tava tomando conta de toda a minha vida, a ponto de eu ter parado de pensar em mim mesma. Ele me ajudou a descobrir que eu tava desperdiçando a vida dessa maneira. O que ele fez foi tão... divino, que hoje eu me sinto até uma mulher mais bonita. Pra você ver a que ponto chegou. O resultado disso tudo é que eu tô plenamente satisfeita. Depois do meu pai, ele é o homem mais maravilhoso que eu já conheci nessa vida”.


ENTREVISTADA #5
VALÉRIA BRAZÃO, 27, MICROEMPRESÁRIA

“Peraí, peraí, peraí... Antes, um minutinho: eu já falei o meu nome? Não lembro de ter falado... Olha, me desculpa se eu sou muito desconfiada, mas sabe como é, né? Todo cuidado é pouco. Nada pessoal. Eu só gostaria de entender melhor o propósito de tudo isso. Hihihihihihihi!!! Aaaaai, meu Deus!! Uau! Acho que eu não devia ter bebido aquelas doses de uísque antes da gente começar. Você acha que eu sou estranha? Hum, com certeza tá achando. Todo mundo acha. Acho que... Com licença, tenho que ir ao banheiro. Licencinha, volto já!”


Pergunta: Qual é a lembrança mais especial que você tem com seu namorado?

ENTREVISTADA #1
ÁGATA BATISTA, 31, VETERINÁRIA

“Ah, eu nem tenho que fazer força pra lembrar: uma vez eu me queixei por nós não termos tanto tempo juntos quanto eu gostaria. Então ele me deu um beagle muuuito fofo e fiquei emocionada igual a uma boba quando ele batizou o cachorrinho de Bombom. Cara!! Foi o primeiro apelido que eu dei pro meu namorado, mas eu só o chamei assim nos primeiros meses de namoro. Eu achava que ele odiava esse apelido!! E aí ele me surpreendeu mostrando que se lembrava dessa época do início do namoro. Tem coisa mais tocante? Você quer ver o Bombom? Ele deve estar no quintal almoçando alguma sandália velha”.


ENTREVISTADA #4
ROSANE KIMURA, 32, PROFESSORA DE ENSINO ESPECIAL

“Uma vez a gente fez um passeio pela orla da cidade, pra ver o pôr-do-sol, e tinha uns jovens andando de patins. Dois caras passaram correndo e arrancaram a minha bolsa. Meu namorado não pensou duas vezes e obrigou um dos garotos a dar os patins pra ele. Hahahahahaa!!! Você acredita que ele calçou os patins e foi patinando atrás dos bandidos?? Eu tava toda nervosa na hora, com medo de alguma coisa acontecer. Mas depois quase morri de rir dessa história. Bom, ele não conseguiu recuperar a bolsa, mas conquistou o título de herói, sem dúvida. Ah, e um joelho ralado também. Foi aí que eu descobri o quanto ele tá pronto pra cuidar de mim e me proteger. Não que eu precise disso, mas poder vivenciar isso faz eu me sentir tão... preciosa. Tão valorizada. E isso é o que toda mulher quer”.


ENTREVISTADA #5
VALÉRIA BRAZÃO, 27, MICROEMPRESÁRIA

“Tudo que eu vivo com ele é especial. Os únicos momentos não especiais são quando ele não está aqui. Mas quando ele não tá aqui eu ligo, mando mensagem, fico atrás, pentelho mesmo. Pode me chamar de grudenta, namorada-chiclete, mas eu lá vou dar bobeira com um homão lindo desse? De forma alguma, meu amor. Concorda?”



Pergunta: Você se considera uma boa namorada? Por quê?


ENTREVISTADA #2
CYNTIA FREITAS, 24, ESTUDANTE DE DIREITO

“Eu faço o possível. Sou dedicada, romântica, levo o meu compromisso a sério. E eu oro pelo meu relacionamento. Acho que, se uma pessoa eleva um relacionamento a um nível espiritual, isso deve dizer muita coisa sobre essa pessoa, não é mesmo? Modéstia à parte, eu sou uma namorada boa, sim.”


ENTREVISTADA #3
JULIANA MAIA, 29, YOUTUBER, DJ E FOTÓGRAFA

“Hum... Eu não sei, acho que sim. Você perguntou isso pra ele? Eu não sou uma mulher muito fácil, na verdade. Como eu disse, meus horários são complicados e às vezes fico quatro ou cinco dias sem dar notícia. Então, se eu for uma boa namorada, eu devo isso a ele, por toda a paciência e todo o amor. Hahahaha!! Sou meio acanhada pra me abrir, você já notou, né?”


Pergunta: O que você não perdoaria num namoro?


ENTREVISTADA #1
ÁGATA BATISTA, 31, VETERINÁRIA

“Definitivamente, traição. Sem mais”.

ENTREVISTADA #2
CYNTIA FREITAS, 24, ESTUDANTE DE DIREITO

“Traição, sem sombra de dúvida. Só de imaginar que seu namorado às vezes pensa em uma outra pessoa... Deus me livre! Isso me enoja. Imperdoável.”


ENTREVISTADA #3
JULIANA MAIA, 29, YOUTUBER, DJ E FOTÓGRAFA

“Acho que... falta de honestidade e respeito. Respeito é o mínimo pra um relacionamento se manter. Eu fiz um vídeo sobre isso no meu canal, bateu recorde de views”.

ENTREVISTADA #4
ROSANE KIMURA, 32, PROFESSORA DE ENSINO ESPECIAL

“Olha, acho que traição é o item número um da lista dos pecados imperdoáveis numa relação. Mas me sinto madura o bastante pra ter uma conversa civilizada com meu namorado se isso acontecesse, pra resolvermos como adultos. Provavelmente seria o fim da relação e a confiança morreria, mas... Enfim, só acontecendo pra saber. Por quê? Você sabe de algo que eu não sei? Hahahahahaha!! Desculpa. Sou só uma mulher com um senso de humor mais afiado quando se trata de assuntos mais tensos. Uma brincadeira não faz mal de vez em quando”.

ENTREVISTADA #5
VALÉRIA BRAZÃO, 27, MICROEMPRESÁRIA

“Se meu namorado terminasse comigo sem motivo, eu seria capaz de me transformar numa verdadeira bomba cheia de ódio. Seria capaz das atitudes mais drásticas. Sério!!!... Eita, que cara é essa??? Hahahahahaha!!! Te peguei, hein!! Devia ter visto a cara que você fez. Calma! Eu sou legal. Que tipo de mulher você acha que eu sou? Ah, meu bem, eu sou um doce de pessoa. Só não pisa muito no meu calo, porque dependendo do dia eu posso ser... hummm... bem instável. Hahahahaha!!! Você tá começando a fazer a mesma cara outra vez. Tô brincando, gente!! Nossa!! Ou será que não?? Hahahahaha!! Olha, pra ver essa sua cara assustada assim, eu poderia ficar fazendo isso o dia todo.”


Milena pressiona o botão pause no controle remoto. A imagem de Valéria Brazão com a boca aberta durante uma risada escandalosa está congelada na tela da TV do quarto de Sávio.
“Acho que já chega”, suspira ela, exibindo uma fisionomia pétrea.
“Tem mais uns quinze minutos”, explica Sávio.
“Já vi o suficiente”, ela parece saturada.
“Eu não queria, mas você insistiu”, justifica-se ele.
“Não, não, eu tenho plena consciência disso, Sávio. Não tô arrependida de ter insistido. Eu só cansei de ver esse monte de mulheres iludidas, ludibriadas, tapeadas. Algumas são meio creepy, mas não deixam de ser vítimas do Ivan. Coitadas, viu? E sem falar que... Meu Deus do céu!! A Juliana é uma delas. Tanto tempo que eu não vejo ela e reencontrá-la nesse tipo de situação...”
“Como é que o Ivan deu essa mancada de namorar você e a sua própria prima?”, admira-se Sávio, provavelmente suspeitando que Ivan se utilizara de alguma astúcia para ficar com duas moças com grau de parentesco tão próximo.
“Não sei, mas eu vou descobrir”.
“Fiquei me segurando na hora da gravação pra não contar a elas tudo o que eu sei”, diz Sávio. “O que você vai fazer com esse documentário?”
Milena dirige a ele um olhar um tanto intrigado.
“É assim que você chama esse vídeo?”
“É... Desculpa. Você sabe que eu tenho uma mania chata de demonstrar senso de humor em horas pouco convenientes”.
“Hummm... Se bem que você fez um trabalho bem profissa mesmo. Aprendeu a editar vídeo direitinho. Um tipo de capricho que aquele canalha não merce, mas parabéns pelo resultado.”
Sávio agradece, apesar de soar estranho, dado às circunstâncias.
“Esse vídeo vai ser meu material de apoio”, esclarece Mile, analisando o rosto de Valéria na TV. A moça tem a pele branca, usa o cabelo castanho-escuro curto caindo até à altura do pescoço, com uma vasta franja cobrindo parte de seus olhos verde-oliva.
“Como assim material de apoio?”
“Pra quando eu for confrontar o Ivan”, assume Milena, retirando o pendrive onde o vídeo (ou melhor, documentário) está armazenado. “Obrigada, Sávio. Eu tentei te deixar de fora disso, mas não me contive. Me perdoa!”
“Esse não é o problema”
“Ai, meu Deus!! Qual é o problema então?”, preocupa-se Milena.
“Olha pra você, Mile. Olha pra nós. Você ainda tá agindo como se a gente fosse distante. Eu pensei que as coisas tinham voltado ao normal”.
Ela baixa a cabeça, envergonhada. Sávio continua:
“Não quero que você peça desculpas por eu te ajudar com o Ivan. Desmascarar esse safado é a coisa mais prazerosa que eu posso fazer no momento. Por favor, não me tira esse prazer”.
Apesar da situação delicada, Sávio consegue arrancar uma risada de Milena. Não algo vigoroso, mas já é alguma coisa.
“Vem cá, amigo”, ela abre os braços, recebendo dele um abraço bem caloroso.
“Como tá o trabalho na AMANDA?”
“Eu inventei pro Ivan que tô resolvendo uns problemas e disse que não queria pegar nenhum caso por enquanto. O que é uma mentirinha contada pra quem te vendeu um mundo inteiro de enganações?”
“Verdade”, concorda Sávio, desejando poder dizer mais do que apenas isso, achando-se impotente para prestar alguma ajuda mais útil.
Sávio a acompanha até o portão, mas antes passam por Dona Lola no pátio, cortando fatias de uma manga bem polpuda. A mulher não os poupa:
“Vocês sabem que eu adoro ver vocês juntos, mas ficar sozinhos no quarto quando cada um de vocês é comprometido com outra pessoa... Já não dá pra ver com bons olhos. Eu me sinto mal em acobertar esse tipo de situação”.
“E eu que pensei que ia ficar livre de passar vergonha hoje. Obrigado, mãe!”
“Ah, meu filho, nisso eu sou muito boa”.
“Pode ficar tranquila, dona Lola. Não tenho planos de violar a ordem e a decência da sua casa tão cedo”, Milena responde, infalível.
Dona Lola ri e acena enquanto os dois continuam caminhando.
Anna Munhoz está acabando de chegar assim que eles pisam na calçada.
“Anna?”, fica claro que Sávio não a esperava.
“Desculpa, eu...”, Anna começa a gaguejar, seriamente desconcertada, especialmente quando crava os olhos em Milena. “Eu devia ter avisado, não sabia que você tinha... companhia. Melhor eu ir embora”.
“Não!”, exclama Milena, de um jeito tão decidido que acaba atraindo os olhares ligeiramente incrédulos de ambos.
Milena e Anna se encaram, num silêncio de poucos segundos que causa a impressão de que o mundo parou de girar só para conferir esta cena.
“Acho que já tá mais que na hora de nós três termos uma conversa. Juntos. Uma conversa esclarecedora de uma vez por todas. Uma conversa de adultos”.
“Mile, você tem certeza que é uma boa hora?”
“Eu tenho coisas pra resolver, Sávio. Já que a Anna tá aqui, por que não aproveitar e resolver uma dessas coisas? O que você acha?”, ela ergue o queixo gentilmente em direção a Anna.
Anna hesita por um momento. Ela e Milena continuam se encarando. Sávio não faz a menor de ideia de qual atitude tomar. Por algum motivo, ele está se sentindo receoso. Ambas andam com o emocional desestabilizado por causa de seus respectivos namorados, sendo que ele próprio é um desses namorados. O que poderia resultar de uma conversa entre eles?
“Pra ser bem sincera”, declara Anna, “eu acho uma ótima ideia. Vamos ter essa conversa!”
Dizem que as melhores conversas são aquelas que acontecem sem serem programadas, agendadas. Talvez seja realmente uma chance para esclarecer ou ajustar as coisas que vêm estado entaladas na garganta há tantos anos. Ou, talvez, piorá-las. Como disse uma das namoradas de Ivan no “documentário”, só acontecendo pra saber. E esse dia, inesperadamente, enfim chegou.


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