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12 de dezembro de 2012

crônica: A GREVE DOS NARRADORES

      
      Sem qualquer preâmbulo cansativo, olá, admirável leitor. Meu nome é Alguém. Não sei meu sobrenome. Estou prestes a lhe contar, em primeira pessoa, uma história perturbadora. Na verdade Alguém não é exatamente meu nome, pois o que estou fazendo aqui neste texto não é trabalho meu, mas de um narrador que deveria estar me apresentando com todas as informações precisas e importantes. Eu, sinceramente, gostaria de me chamar Nelson, Naim ou Nicolas. Onde eu estava mesmo? Não consigo me recordar...
     Enfim, uma situação vem se intensificando desde que foi deflagrada a greve geral dos narradores. Todos os membros do sindicato desta categoria, dentro de todos os gêneros literários, aderiram à greve. Bom, pelo menos é o que se conta por aí, já que eu não sou narrador. Está difícil viver neste mundo sem uma pessoa que conte o que se passa nas linhas de um texto, pois não se consegue mais ler um livro decentemente, uma história recheada de detalhes ou uma crônica com aquele tempero que só os narradores dão, graças à sua perspicácia, elegância e, claro, algumas tiradas sacanas. O mundo está um caos. O estopim da greve foi, segundo me disseram do que pode ter sido dito por um narrador (my God!!!), o descontentamento da categoria com a classe leitora. Os leitores ignoram o poder de uma narração. Ignoram a sapiência e o imensurável conhecimento de mundo (deste e de outros) por parte dos narradores. Eu, por exemplo, estou aqui tentanto pedir ajuda, pois não possuo curso algum que me habilite a exercer esta função. Além do mais, não tenho um quê de vidente, telepata, Deus ou alguma outra característica inerente a um narrador. 
     Na minha humilde opinião, influenciado pelas más línguas e as teorias de conspiração, os narradores se juntaram e é possível que, com tanto conhecimento acumulado e segredos a que só eles tem acesso ao longo da História do mundo, estão guardando alguma informação extremamente sigilosa, talvez prestes a fundar uma seita e compartilhar essa verdade universal apenas entre narradores. Ou, ainda, podem ter se desiludido tanto com o que viram e foram obrigados a narrar sobre homens, animais e aliens e decidiram cometer suicídio coletivo. Oh, não!! Não pode ser. Eu não suportaria descobrir que os narradores do mundo se foram e jamais voltarão. Quem aprenderia seus talentos? Quem os substituiria? E, por Deus, quem sou eu afinal? Gente, com licença, acho que vou desmaiar...


Um comentário:

Tiago Quingosta disse...

Gostei muito. O tema é bem interessante! Leitura gostosa. Acho que o final pede mais texto e menos desmaio.