Uma crônica pode nascer de
diversas maneiras. Uma delas, como neste texto, diz respeito ao autor colocar a
cabeça pra funcionar em busca das origens possíveis das crônicas. Antes, deixe-me dividir com você algo interessante que me ocorreu há algum tempo: eu enfiei na
mente a ideia de um dia escrever o que seria, na minha imaginação, uma crônica
3D! Estranho, não? Mas essa insensatez —coisa de escritores— se deve a uma
ocasião em que estive refletindo sobre o rótulo de uma famosa marca de fermento
em pó. Você
deve se recordar. O rótulo vermelho mostra no centro uma lata de fermento
igualmente àquela que tem o rótulo vermelho, e a imagem da lata com rótulo
vermelho vai se sucedendo, uma dentro da outra.
No afã da minha viagem na
maionese, um desses milésimos de segundo tão insanos quanto ironicamente
saudáveis, imaginei se eu não estivesse dentro de uma embalagem de fermento em
pó, uma vez que, já que há uma bendita lata no rótulo de outra lata, quem me
garantiria que a lata na “minha realidade” não seria desenho ilustrando um
rótulo? Agora você entende parte dos meus acessos de loucura que originam os
mais diversos textos de ficção (incluindo os deste blog).
A verdade é que me desviei do que
me propus no início. Sim, sim, como nasce uma crônica? Tem vezes que uma
crônica simplesmente explode na cabeça do cronista, como um big bang
devastador, que não se preocupa se o escritor tem mil problemas o atormentando,
conflitos mentais, projetos literários diversos ou se ele acessa internet em Macapá. Tem crônicas
que são completas amigas, pois elas já vem com uma estrutura pronta, início,
meio e fim. Não é o caso desta, por exemplo. Porém, as outras a que me referia
são tão camaradas que a única coisa que falta, obviamente, é serem escritas. As
crônicas dessa espécie só não se escrevem sozinhas e se atiram num blog ou na
página de um livro porque, no dia que isso acontecer, provavelmente muitas
outras bizarrices assustadoras estarão acontecendo paralelamente no mundo, como
um computador cansar de ser xingado pelo internauta frustrado, possivelmente
morador de Macapá, e se desligar sozinho e religar somente com um pedido de
desculpas categórico e um buquê de rosas. Uns elogiozinhos disfarçados de
vocativos caem bem, tipo “meu PCzinho fofo, religue-se, por favor!”
Vale lembrar que crônicas são,
essencialmente, narrativas do cotidiano que aproximam o leitor com muita
facilidade do texto, pois uma característica primordial da crônica é revelar a
verdade muitas vezes ignorada ou mal percebida. É por isso que grande parte das
crônicas tem forte apelo humorístico, porque nós nos identificamos naquelas
linhas, nós lemos e suspiramos aliviados por saber que não estamos sozinhos em
muitas de nossas atitudes, e isso quase sempre nos faz rir. Juntando-se a
verdade do dia-a-dia com alguém que tenha paixão por escrever, além de talento
também, BUM!! Tem-se uma crônica bem cozida e pronta para servir, sem limite de
porções.
Como nasce uma crônica? Pode nascer sem querer, quando você olha uma cena na rua ou imagina o desenvolvimento de uma mera imagem que você viu em algum lugar. Pode vir de uma reles frase proferida por um amigo seu ou mesmo um desconhecido que teve o abençoado papel de te inspirar a criar uma crônica. Não sei
se consegui expor lucidamente meu ponto de vista. Às vezes, a crônica nos faz
divagar, nos faz discorrer sobre elementos peculiares da vida diária, mesmo que
nos ponha um pouco à parte de um foco específico. Ela nos leva sorrateiramente
a criar um diálogo tão à vontade que, aquilo que fora proposto por ela, acaba
fazendo sentido na mente dos que estão atentos na leitura. Ou será que não?
Quanto à minha crônica 3D, que seria uma crônica dentro da crônica (levando em
consideração que 3D busca causar o efeito da profundidade aos nossos sentidos),
considero quase uma missão que cumpri indiretamente, com este texto. Crônica
3D?!?! Façamos o favor, né? Isso não existe...
3 comentários:
Aplausos.
Inteligente, voce
CONVITE
Tenho um página muito simplória na internet, aonde escrevinho alguns pensamentos, poemas, poesias ou mesmo textos diversificados. Não seria um blogue. Um blogue, é mais complexo, mais completo, mais colorido. Ainda assim, estou a lhe convidar a ir até lá, visitar-me, e se possivel seguirmos juntos por eles. Estarei lá, muito grato, esperando por Você.
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com
adorei, me arrancou umas boas risadas. metalinguisticamente acho que cumpriste tua missão de dizer como nasce uma crônica 3D.
" ou se ele acessa internet em Macapá." Impagável KKKKKKKK melhor crônica!!! Até agora a minha preferida! Meus parabéns!!!
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