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1 de julho de 2015

DESAPAIXONANTE -- FIM DA 1a TEMPORADA --- EPISÓDIO 11: FABI




(Do diário de Milena Kerber, 28 de Junho de 2015, às 14:52)

E aí, Fabi, beleza?
Como está essa vida de portadora das verdades insanas de Milena Kerber? Acordei hoje beeem tarde, depois das onze. Eu mereço, né? Depois de uma semana tão longa. Não te dava um oi desde a volta de Goiânia. Foi tudo muito louco. A gente encontrou um cara muito doido por lá, que era o objeto de paixão da filha da nossa cliente. Ele se passava por cantor sertanejo e depois cantor de funk e sabe lá Deus qual será a próxima identidade que ele vai assumir. O ponto mais bizarramente louco estratosférico de inesperado foi que Sávio descobriu que o cara, que na verdade é um coroa de 40 e poucos anos, era ninguém menos que o Sr. Ilusão, um antigo vocalista de uma banda de rock gótico que o Sávio simplesmente amava na adolescência. O Sávio ficou possesso. Sempre que me lembro disso eu morro de rir. Parecia revelação bombástica de novela.
Hoje Enzo e eu vamos sair pra jantar. Vai ser um saco, como sempre. Tenho certeza que ele deve me levar ao restaurante de comida italiana que abriu perto da casa dele. Já ensaiei dezoito vezes na frente do espelho o sorriso que vou fazer para a selfie que ele vai querer tirar pra postar nas redes sociais. Enzo previsível. Tá, tá, na verdade ele é um amor, mas o enjoo por ele está apenas crescendo e tudo que ele faz parece aborrecido, entediante. Sabe, Fabi, se ele me perguntasse o que poderia fazer pra reconquistar aquele velho sentimento que tinha por ele, a minha sincera resposta seria: NÃO SEI. Acho que não tem mais como voltar a gostar dele. A única coisa que eu sei é que preciso tomar uma atitude. Estou com 90% de certeza que hoje pode ser uma excelente oportunidade pra isso.
Tô indo, Fabi. Te conto mais tarde como foi. Torça por mim, gata. Tchau!


(Narrado por Enzo)

É hoje. Hoje é o dia. Hoje. Isso. Respira, Enzo. Inspira, expira, inspira, expira. Pensei muito nisso, e hoje finalmente tomarei uma atitude. O que será que ela vai achar? Será que estou sendo muito precipitado? Meu Deus, meu Deus...
Será que ela vai gostar do presente? Será que eu soube escolher? Sei lá, às vezes me acho uma toupeira na hora de escolher um presente pra alguém, não importa há quanto tempo eu conheça a pessoa. Espero muito, muito que ela goste. É de coração. Simboliza o que ela representa pra mim e o que eu quero para nossas vidas de agora em diante. Será muito cedo pra tanto? Ai, caramba, quando é o tempo certo para dar esse tipo de passo? Não sei, em breve vou descobrir. Deus me ajude.


(Narrado por Sávio)

Plena segunda-feira e nada da Milena aparecer. Estou rodando na cadeira giratória em minha sala, lendo uma revista antiga do Batman, enquanto aparentemente o dia está calmo. Apenas uma pessoa telefonou perguntando informações sobre como chegar à agência. Mas isso já faz tanto tempo que eu acredito que a pessoa desistiu.
Escuto uma movimentação lá fora. É a voz da minha sócia. Acho que vou aguardá-la aparecer aqui pra me dar bom-dia, como ela quase sempre faz.
Mas o tempo passa, eu leio umas dez páginas dos quadrinhos do homem-morcego, e o silêncio está reinando absoluto no escritório da ANNA. Cadê a Milena? Ora, Sávio, levante-se e vá você mesmo cumprimentar a moça. Apesar de eu ainda estar chateado com ela, porque ainda gargalha toda vez que me vê graças ao episódio de Goiânia, eu vou até lá.
“Milena!!”, eu bato à porta e falo o nome dela, dando a entender que vou entrar. Mas não vou entrar, porque estranhamente a porta está trancada. Que esquisito!
“Milena, tá tudo bem?”
“Quero ficar sozinha, Sávio.”
“Tá precisando de alguma coisa? O que aconteceu?”
Sem resposta. Tem algo muito sério acontecendo. Para Milena não querer me receber para desabafar algum problema, o mundo só pode estar acabando. O que pode estar havendo pra ela nem mesmo querer falar comigo, seu companheiro para todas as horas?
“Seu Sávio, a cliente nova tá lá na recepção”, Madonna aparece e anuncia a presença de alguém, que deve ser a mesma pessoa que ligou há quase duas horas.
Eu me dirijo à recepção da empresa, pronto para receber mais uma dessas mulheres a que estamos acostumados a receber na ANNA: as apaixonadas por caras casados, amigos gays, namorados virtuais que moram no outro lado do mundo, enfim... Mas aí me deparo com ela e juro que meu coração para por dois segundos. Eu simplesmente não posso acreditar no que está diante de mim.


(Do diário de Milena Kerber, 29 de Junho de 2015, às 10:44):

Oi, Fabi.
Desculpa te trazer pro escritório hoje. Mas fica tranquila, eu tranquei a porta, temos toda a privacidade. Quero pedir desculpas por não ter entrado em contato ontem, mas eu cheguei tão desorientada em casa que tudo que fiz foi me deitar. Engoli duas aspirinas e graças a Deus afundei no sono. Tive um sonho com o Enzo. A gente tava num barco, o barco virava e o Enzo morria afogado... Sinistro! O meu subconsciente deve ter passado a noite toda processando o que aconteceu no restaurante. Fui com uma intenção, acabou que eu fui a surpreendida na noite. Eu falei pro Enzo que precisava dizer algo a ele, mas acontece que ele também tinha algo pra me contar. Nunca o tinha visto tão nervoso, Fabi. Os lábios dele até tremiam. Na ingenuidade da minha gentileza, deixei que ele dissesse primeiro o que precisava. E aí foi quando eu me dei mal. Meu plano foi por água abaixo graças ao que ele falou. E agora eu tô arrasada. Apesar de eu ter aceitado o que ele me propôs, a ficha ainda não caiu. E no estado em que eu me encontro no momento, essa ficha ainda vai demorar muito a cair.
As coisas saíram bem diferentes do que eu tava esperando pra noite de ontem, eu nunca sonhei que fosse seguir esse rumo inesperado. Ai, eu queria tanto um abraço agora... Eu devia estar feliz? Não sei, estou confusa. Acho que vou contar pro Sávio, mas... agora não. Agora eu preciso de um tempo sozinha.
Quer dizer, com você, Fabi. Só com você.


(Narrado por Enzo)

Quem entende as mulheres? Eu estava crendo firmemente que, depois de ontem, ela atenderia minhas ligações no primeiro toque. Detesto me sentir um chato insistente, mas eu já tentei até a metade do dia umas 22 vezes. E as horas se avançam. Será que ela ficou assustada? Mas ela pareceu gostar tanto... Eu sabia que devia ter esperado um pouco mais.


(Narrado por Sávio)

Estou em choque. Ela está na minha sala, diante de mim, eu podendo ver seus inesquecíveis olhos e tudo aquilo que um dia eu quis ter. E o pior de tudo, o ataque mais sanguinário e letal: ruiva. Ruiva!!
Estou assumindo um controle que não existe em mim, cheio de perguntas, questões em aberto que até hoje nunca engoli. Mas aqui está ela apenas por “uma questão estritamente profissional”, como fez questão de frisar assim que começou a explicar o que queria quando foi me procurar na agência.
“Vamos deixar o passado de lado”, ela propõe. “Meu interesse aqui é apenas nos seus talentos. Eu preciso muito que você me ajude.”
Deixar o passado de lado, uma ova! Foi o que eu pensei em dizer, mas me esforcei e cortei a conexão entre meu cérebro e minha boca. Muito perspicaz da minha parte. O curioso é que o ar condicionado está desligado, mas uma onda de frieza perpassa o ambiente. Parece que ela trouxe consigo uma geleira sob o petrificante olhar, e até mesmo seu hálito parece lançar rajadas gélidas contra o ar da sala. Cara, como eu viajo! Acho que já mencionei que eu deveria ser uma dessas pessoas que tomam remédios prescritos por psiquiatras, não?
“Você sabe que é difícil pra mim estar te atendendo, né? Depois do que aconteceu...”, não sei com que coragem eu consigo pronunciar essas frases tão grandes. Se eu tenho uma cota para falar em situações embaraçosas desse tipo, devo ter estourado o equivalente a três dias.
“Sávio, eu sei que é difícil, mas a agência de vocês é tudo que eu tenho nesse momento. E eu não gostaria de pedir pra sua amiga chata do cabelo azul, porque é com você que eu tenho mais intimidade.”
“Ei, ei, olha lá como fala!! Você não tem direito de falar assim da Milena. É sério que você vem até o meu trabalho e xinga a minha sócia?”
“Ah, menos, né? Desde quando ‘chata’ é xingamento? Pôxa, eu levantei a tua bola, falei dos seus talentos. Olha, me desculpa pelo que eu falei da Milena, ok? Mas, por favor, me ajuda e me desapaixonar de uma pessoa.”
O que havia começado como uma pequena contemplação, um reavivamento do desejo frustrado de tempos atrás, lentamente vai se transformando em ressentimento. A verdade é que eu nunca a perdoei, e bastou ela chamar minha melhor amiga de “chata” para eu descobrir que no meu coração ela sempre ocupará um lugar desagradável. Mesmo sendo uma ruiva tão exuberante e encantadora.
“Eu não vou prestar serviço pra você. Me desculpe.”
“O quê?”
“Foi isso aí que você ouviu”, dá-lhe Sávio, irredutível. Estou ficando orgulhoso, será que estou desenvolvendo imunidade às ruivas? Parece bom... Peraí, mas nem todas as ruivas são assim. Parece preocupante agora. Vai com calma, Sávio.
“Você tá me dizendo que vai recusar trabalho? Vai perder dinheiro? É sério? Que tipo de empresário recusa dinheiro?”
“Pois é, até eu tô impressionado. Mas essa é a parte boa de você não ter patrão. Você faz o que quiser.”
“Você não tá entendendo. Eu posso ficar encrencada se continuar gostando dessa pessoa. Você não pode se recusar a fazer o serviço.”
“É você que não tá entendendo. Eu não sou obrigado a aceitar, não existe nada que me obrigue a aceitar. Eu não vou trabalhar pra você.”
“Tudo isso só porque eu chamei sua amiga de chata?”
“Você sabe que não é só por causa disso.”
“Águas passadas são águas passadas, Sávio. Isso só mostra o quanto você é imaturo. Tudo bem então, acho que só me resta ir embora.”
Ela se levanta, ajeita a bolsa num dos ombros, dá uma sacudida de leve nos cabelos (um truque matador, ainda mais de uma ruiva, mas estranhamente não funciona comigo agora). Vai rumo à porta, para de costas para mim, até que se vira e resolve me alvejar com uma maldita pergunta que eu esperava que jamais me fizesse:
“Você ainda sente alguma coisa por mim?”
“Ah, qual é, né? Por favor, vai embora.”
“É tudo o que eu quero saber, Sávio.”
Eu aponto a porta para ela, que depois de uns cinco segundos me fitando, entende que o silêncio é toda a resposta que vai ter. Finalmente ela se vai. Mas o ar gelado na sala continua. Porém, por algum motivo que não consigo identificar, meu coração está quente. Eu sabia que não deveria ter me aproximado demais daqueles cabelos de fogo.  


(Do diário de Milena Kerber, 30 de Junho de 2015, às 23:36)

Oi, Fabi
Passando por aqui apenas pra dar um “oi”. Estou tentando dormir desde às 22:00 mas tá difícil. Eu já me revirei tanto na cama... Acho que vou pegar o DVD do filme “Os miseráveis”, aquele mais recente que tem a Anne Hathaway cantando. Eu sempre durmo na metade, é um santo remédio... Boa noite, amiga!


(Do diário de Milena Kerber, 01 de Julho de 2015, às 02:23)

Mas que droga, Fabi!
Além de ter assistido ao filme inteirinho (apesar de ter desviado a atenção dele inúmeras vezes), fiquei pensando no Enzo o tempo todo. Eu simplesmente me lembrei que o DVD dos Miseráveis foi presente dele, e isso foi o gatilho suficiente pra eu rememorar tudo que aconteceu. E o pior: com direito à trilha sonora. Vê se eu mereço. Fabi, você deve me entender, né? Essa situação é toda muito nova pra mim. Algo que eu me via querendo e, de repente, passei a ter. Mas não do jeito que eu projetava. Não do jeito que eu planejava. Não DO MEU JEITO, entende, Fabi?
Ainda não contei ao Sávio. Tenho evitado conversar demais com ele. Ele sabe que eu ando estranha, mas mesmo sendo tão íntimo de mim ele me respeita. Acho que eu tô com vergonha. E se ele zombar de mim? Ele sabia como eu estava me sentindo com relação ao Enzo. Será que o Sávio zombaria de mim? Ou ficaria feliz?
Aaaaaaaah, Fabi!!! Que saco!! Eu ainda não estou conformada. Eu devia ter me imposto, devia, devia, devia. Ouvi tudo que ele falou, compreendi, fui legal, fui um doce, e agora tô aqui lamentando. Mas na hora parecia que eu tava anestesiada. Não tava acreditando que o Enzo tava me falando tudo aquilo. Essa vida é uma piada mesmo, hein, Fabi.
Será que eu consigo pegar no sono se eu ficar repetindo pra sempre que é melhor me conformar que, enfim, tudo acabou?
Vou tentar, Fabi. Boa noite e até amanhã.

(Do diário de Milena Kerber, 01 de Julho de 2015, às 7:17)

Bom dia, Fabi
Tô com umas olheiras gigantes. Se eu sair na rua sem meus óculos escuros vão achar que o Halloween chegou antecipado esse ano. Consegui dormir quase uns cinquenta minutos depois da nossa última conversa. Mentira, não tenho como saber quanto tempo se passou até eu pegar no sono, pois afinal quem controla essas coisas? Tô indo pra ANNA. Bjs, até mais tarde.

(Praça de alimentação do Shopping Central, 04 de Julho de 2015, às 19:30)

Foram precisos três dias se passarem para Milena, enfim, ter coragem de chamar Sávio para tomar um chá gelado no shopping e colocá-lo a par do que vinha lhe acontecendo. O rapaz também estava precisando lhe contar algo que o andava incomodando há alguns dias também.
“O Enzo pediu pra terminar comigo”, desembuchou Milena, sem preâmbulos.
“O quê?! Caramba, como assim?”, Sávio quase se engasgou com seu chá. Aquilo era de fato a última coisa que ele imaginava ouvir.
“Lembra que eu falei que a gente ia jantar domingo passado?”
“Sim.”
“Eu tava decidida a terminar com ele, finalmente tava cheia de coragem, mas... Ele fez antes de mim.”
“Mas o Enzo te ama!”
“Aparentemente tá meio que gostando de outra pessoa. Ele abriu o jogo e disse que não queria ser desonesto comigo e acabar me traindo. Então achou que seria melhor terminar em vez de mentir pra mim e ficar num relacionamento de fachada. Hum, que irônico, não? Eu levei a relação como uma fachada nos últimos meses e aguentei até onde pude pra não magoá-lo, aí aparece uma garota qualquer e num piscar de olhos ele vem até mim e pede pra terminar. Quando você não faz na vida o que deve, a vida faz por você do jeito dela.”
“Mas você parece tão chateada. Não era isso que você queria? Não tá se sentindo aliviada, feliz, livre?”
“Acredite, Sávio. Nenhuma garota que pensa em terminar o namoro quer que isso aconteça dessa maneira, ou seja, trocada por outra garota. Ah, fiquei indignada com isso. Fiquei com o orgulho ferido sim, não vou mentir. Mas o que me dói é que eu fiquei tão desnorteada na hora que simplesmente dei a ele o que ele queria. E nem discuti.”
“Vocês, mulheres, são difíceis de entender, viu? Não era isso que você queria? Ou tá arrependida agora?”
“Não tô arrependida. É que, sei lá... Quem será essa mocreia que fez a cabeça do Enzo a tal ponto? Meu reino por essa informação. Tipo, o que é que ela tem que eu não tenho? Ai, Sávio, me desculpa, mas nessas horas só a Fabi que me entende.”
“Fabi?! O seu diário?? Você ainda tem essa obsessão por essa tal de Fabiana, a menina que era sua amiga de infância e você não vê há séculos? Mile, na boa, mas isso é muito doentio. Tirando o fato de que você ainda tem um diário nessa idade.”
Milena continuou tomando seu chá gelado, ignorando as observações típicas que Sávio podia fazer por ter tanta intimidade com ela. “Me deixa, Sávio. De perto, ninguém é normal”, pensou. Até que se lembrou:
“E você, o que é que tinha pra me contar?”


(Narrado por Enzo)

Ainda bem que sou um cara tranquilo, que não se deixa abalar seriamente por certas coisas que acontecem. Minha nova empreitada amorosa não deu certo. E, sim, eu me precipitei em comprar o presente pra ela. Seria para entregar hoje, a expectativa estava enorme. Ainda bem que não chegarei a entregar, mas dá uma pena quando penso na grana que gastei.
Hoje ela me ligou e pediu desculpas pelo pequeno sumiço, mas que adorou o fato de nós termos ficado ontem, mesmo eu tendo avançado o sinal um pouco rápido. Talvez o que contou pontos pra mim foi o fato de não ter avançado tanto assim. Entretanto, ela me mandou a real e sem lero-lero ela disse que não tá a fim de continuar. Confessou que foi até a agência da Milena para tentar contratar os serviços para se desapaixonar por mim, mas que seu pedido foi recusado. Meu ego masculino deu um salto, pois quem não fica envaidecido ao saber que alguém está precisando pagar para ser convencido de que não pode ficar apaixonado por você? Segundo ela, só foi até lá porque temia se envolver em alguma encrenca envolvendo ela, Milena e eu. Sei lá, talvez ela ficou com medo da Milena surtar e querer tomar satisfação. Mas Milena é gente fina e compreendeu meu lado numa boa. Milena sempre será especial, nunca esquecerei seu gesto maduro e compreensivo.
O problema foi o que ouvi depois na ligação. Ela falou que estar diante do Sávio a deixou confusa. E que por isso não estava mais em condições de assumir seus sentimentos por mim, pois alguma coisa a estava perturbando depois do encontro que teve com ele na agência. Falei que tava tudo bem, agradeci sua honestidade e ficou acertado que podemos continuar sendo amigos. Ela é linda, incrível e arrebatou meu coração tão rapidamente que eu mal me dei conta. Ainda bem que Milena não me perguntou nada sobre ela. Imagine só: com que cara eu iria contar que estava caído de amores pela mesma mulher que dá nome à agência da minha ex-namorada?
Bom, o que está feito está feito. Perdi uma namorada, achando que estava investindo na minha felicidade ao tentar iniciar uma relação com outra mulher. Sim, me sinto um imbecil. O melhor agora é dar um tempo, sair da cidade um pouco. Tô indo ali fazer uma viagem de férias com uns amigos. Espairecer...


(Praça de alimentação do Shopping Central, 04 de Julho de 2015, às 19:45)


“Quer dizer que ela pintou o cabelo e agora é ruiva?”, ressaltou Milena, após Sávio ter finalmente lhe contado o que sucedera na agência no início da semana.
“Isso mesmo.”
“E você, como ficou se sentindo depois de tantos anos sem vê-la? Ainda mais sendo louco por ruivas, como você é.”
“Milena, eu... Eu não sei explicar. Essa é a verdade. Não dá pra dizer simplesmente que é raiva ou mágoa... É algo que tá misturado nisso tudo, entende?”
“Eu acho que é paixão.”
“Paixão”, Sávio repetiu como um robô, num tom que ficou incompreensível se era uma afirmação ou uma pergunta.
Milena, com um semblante variando entre preocupada e triste, arrematou:
“Talvez você ainda sinta algo pela Anna, Sávio. E se for verdade, então o desapaixonamento falhou em você. Eu falhei.”
Sávio ficou encarando o rosto da amiga/sócia sem nada dizer. Ela o conhecia bem demais para que ele resolvesse discutir e dizer que a suspeita dela não tinha cabimento. Seria perda de tempo, e Sávio não podia mentir que a volta de Anna em sua vida tivera um impacto maior do que o esperado. Apesar de, naquele momento, ele ter começado a torcer para que tudo não passasse de uma pancada violenta, porém passageira, do passado.
“Acho que eu quero mais chá”, decidiu Milena, levantando-se e se dirigindo ao balcão do quiosque. 


Caros leitores, chegamos ao fim de uma etapa da série DESAPAIXONANTE. Espero que vocês tenham curtido o episódio final, bem como toda a 1a temporada. Estou pretendendo voltar com a série em Setembro, mas ainda é apenas um plano. Tudo de bom e muito obrigado pelo apoio até aqui. Fiquem com Deus e continuem acompanhando o blog.

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