O q vc tá procurando? Digite aqui

3 de maio de 2015

BASTIDORES DE DESAPAIXONANTE - parte 1

(COM SPOILERS)


Quando tive a ideia para escrever a série Desapaixonante, imaginei que isso deixaria bastante gente intrigada, e por isso mesmo iriam querer conferir o resultado de uma premissa tão diferente (pessoas contratadas para ajudar outras pessoas a se desapaixonar). Como outras ideias que tive, essa nasceu na rua, e não me lembro ao certo o que me fez ter esse estalo. Só sei que imaginei como seria engraçado uma pessoa se desiludir ao ver que alguém de quem gosta comete imperdoáveis erros gramaticais, por exemplo. Obviamente, achei este um motivo bobo e fraco para alguém perder o encanto, mas me dei conta de que cada pessoa tem seus motivos para justificar suas preferências para tudo, de música à comida, bem como para deixar de tê-las. Como essas razões só são mostradas no final de cada episódio, é aí que reside boa parte da “comédia” da série, que nasceu justamente com isso como prioridade.
Compartilhei com a minha esposa a premissa da série, e trocamos muitas ideias sobre como ela poderia ser desenvolvida. No início, cada episódio seria curto e grosso, contendo no máximo algumas informações rápidas sobre Milena e Sávio e com muito mais foco nos casos que a agência deles resolveria. Ao fim do episódio piloto (batizado assim para imitar o padrão americano das séries de TV, em que a maioria das estreias de séries tem o primeiro episódio nomeado assim), escrito em duas laudas no Word, vi que havia fracassado em querer escrever algo compacto e objetivo. Porém, havia ficado com um resultado agradável. É necessário frisar que nenhum episódio vai pro blog sem que antes eu o releia e modifique algumas vezes e até a Cássia dá uns pitacos; ela é como a degustadora oficial, que me ajuda mostrando quando algumas coisinhas estão desnecessárias ou se já estão “no ponto”.
Desde a produção do primeiro episódio, foi decidido que a narrativa seria alternada, para que tivéssemos perspectivas diferentes da história. O primeiro, por exemplo, é narrado pelo personagem Sávio. Criado apenas em caráter experimental, esse episódio não traz todas as informações importantes sobre a agência que ele administra com sua amiga e sócia Milena, tampouco a respeito deles mesmos. Essas informações adicionais ficaram como cartas na manga a serem reveladas depois, para o caso do episódio piloto ser aprovado por uma quantidade significativa de leitores. Mesmo que o episódio não tivesse sido aprovado, o fato de não se saber ainda certas coisas sobre o universo da série não teria influência direta no episódio em si, e a série poderia muito bem ter sido cancelada ali.
A sacada foi dar ao leitor alguns vislumbres sobre como a agência funciona, mencionando, por exemplo, seu nome (ANNA – sigla para Agência do Negócio Nada Apaixonante) e uma lista inusitada de cinco mandamentos, suscitando no leitor a curiosidade de querer saber mais sobre a empresa, já que até uma lista de mandamentos ela possui!! O fato de dar a ela um nome de mulher foi um trabalhinho à parte, mas assim que surgiu um significado interessante que combinasse com uma sigla interessante, automaticamente surgiu uma ideia de usá-lo além do mero nome para a agência, tornando-o assim um tipo esquisito de homenagear a primeira moça por quem Sávio se desapaixonou graças à ajuda de Milena.
Cada nova ideia ou detalhe que pudesse ser acrescentado à vida dos personagens-chave foi gerando um crescimento descomunal em Desapaixonante. A partir do segundo episódio, narrado por Milena, entendi que seria difícil redigir os textos com todas as informações que cada um deveria conter e ao mesmo tempo não deixar que ficassem longos. Textos grandes em blogs não são atraentes para a maioria das pessoas, pois geralmente ninguém entra na Internet para fazer uma coisa só, e se o seu texto não segurar a pessoa nas primeiras linhas, ela abrirá outra aba no navegador para olhar algo mais interessante. Mas a narrativa de Desapaixonante tem conseguido um grande feito nesse sentido, pois a leitura tem sido muito fluída e leve, já que a linguagem é rápida e a dinâmica da narrativa em primeira pessoa contribui demais. Existem truques inseridos aí, e não digo isso para me vangloriar, mas porque quando você lê uma história com um tema tão universal (paixão), o fato de ele ser narrado do ponto de vista de quem vive os fatos te põe mais perto deles, já que você tem acesso até mesmo às reações mais íntimas e pensamentos mais secretos, sendo praticamente um cúmplice. E aí está outro truque, pois estar tão próximo do personagem-narrador numa série como esta te ajuda a refletir mais sobre o mundo ao seu redor, mesmo que isso ocorra durante a interação com um texto cômico.
Na verdade, a comédia é uma forma de apontar as verdades inescapáveis da vida de forma a mostrar que ninguém está imune a elas, e ainda assim rir disso. E em Desapaixonante, quando Milena ou Sávio se pegam num dilema ou quando um de seus clientes não nega o brilho abobalhado de paixão no olhar, a gente sabe que eles não são mocinhos e nem vilões, bons ou maus, mas são pessoas próximas de nós ou somos nós mesmos.

Enfim, esse foi o primeiro texto sobre os bastidores da série, de maneira a deixá-lo mais próximo do processo de criação. Ando bem satisfeito com o que as pessoas me dizem e as mais diversas emoções que a história tem despertado. Agradeço a Deus por estar tendo sucesso com isso, pois tudo é graças a Ele, e depois a você, leitor, que foi pego na armadilha da paixão e agora nem mesmo a ANNA pode te ajudar.

Nenhum comentário: