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12 de novembro de 2007

A MÚSICA GOSPEL

Abaixo, segue um texto sobre origem e desenvolvimento de um dos estilos que mais prestou favor à humanidade. Aproveitando o ensejo do dia da Consciência Negra que tá chegando, vamos falar de música gospel?


COMO TUDO COMEÇOU E O QUE VEIO EM SEGUIDA


Poucos movimentos musicais influenciaram tanto e atravessaram a História como o Gospel. O termo veio do inglês como God Spell, mais tarde contraído para o que hoje conhecemos simplesmente por Gospel, o qual nossos dicionários facilmente traduzem como Evangelho ou Palavra de Deus. Sua origem, desenvolvimento e evolução são muito importantes e interessantes de se estudar, uma vez que o resultado de tudo isso faz parte de nosso cotidiano e nossa sociedade cristã-ocidental.
Tudo começou, alguns séculos atrás, com os escravos africanos servindo nos Estados Unidos, humilhados e sem o mínimo de liberdade para fazer as coisas de costume da África natal. Esses negros costumavam cantar melodias tristes, cujas letras falavam da saudade da África, dos costumes roubados etc. Faziam isso mais pela noite, embalados pelo clima melancólico do período. Mais tarde, esse tipo de música, com esse caráter de tristeza, passou a ser chamado de blues (tristes).
A questão é que os escravos africanos tiveram que se adaptar ao novo país, principalmente à nova religião, o protestantismo maciço do solo americano. Após serem libertos, esses mesmos negros “invadiram” (no bom sentido) as igrejas protestantes e lá tiveram mais liberdade de desenvolver seu dom musical, através das canções de louvor e ao tocar instrumentos. Mas não eram simplesmente pessoas que colocavam a voz em melodia. Eles deram novas formas às canções religiosas, misturando muito de suas próprias raízes africanas e expressões corporais que pareciam ter nada a ver com a idéia cristã de louvar. Além, é claro, de suas vozes poderosas, muitas vezes roucas, fato que influencia até hoje cantores pelo mundo afora, com performances dignas de negros escravos que inventaram isso. Aí então surgiram os spirituals (espirituais), nome que designava o tipo de música negra com todas essas características, cantadas para louvar o “novo Deus” dos africanos.
O Gospel é uma espécie de “evolução” dos spirituals, e se dava da seguinte maneira: geralmente era cantado por um solista, acompanhado de um coral e um pequeno conjunto instrumental. Ainda hoje é uma caracteística marcante das igrejas americanas, onde vários artistas da música pop desenvolveram seu talento, alguns velhos ou já falecidos, como Elvis Presley, outros mais recentes como Beyoncé. Embora o histórico desses cantores citados pouquíssimo tenha a ver com a doutrina cristã, tudo é uma questão cultural. Os estadunidenses não costumam estranhar que seus artistas comecem a carreira na igreja e partam para o mercado secular, embora as igrejas de lá não preguem isso como aceitável. Mas o que acontece é que a música negra, a mesma que deu origem à religiosa americana, também deu origem a outras músicas que foram evoluindo e fazem parte da cultura popular americana e até mesmo mundial. Ritmos como jazz, soul, reggae e o rock and roll têm raízes na música gospel. Resumindo: ao que parece, o que há de melhor e mais elaborado na música, tanto de forma emocional, intelectual e instrumental, tem início no sofrimento do negro.
Nos Estados Unidos, o gospel só veio estourar enquanto música cristã, comercialmente, nos anos 70, principalmente através do rock. As mensagens das letras não tinham apenas o cunho rigorosamente cristão, embora, é claro, falassem em Jesus Cristo; os temas das canções também passavam por temas como justiça social, preservação da natureza, repúdio às drogas, harmonia entre os homens etc.



ROCK PARA JESUS: O GOSPEL “AGRESSIVO”

Conforme já foi dito, o gospel rock foi o responsável pelo estouro dessa fatia do mercado evangélico ao grande público, principalmente o secular (quem está fora da igreja ou dos pricípios religiosos cristãos). O ritmo, por si só, já é causador de muitas controvérsias e debates, mas é a preferência da maioria dos jovens americanos e foi através disso que muitos conheceram o Evangelho. Unir rock com música cristã até certo tempo parecia um casamento destinado a dar problemas, no entanto a idéia deu muito certo e várias bandas fizeram (e estão fazendo) história. Parte disso se deve ao fato desses cantores serem realmente compromissados com a doutrina protestante e com os princípios de Cristo, e outra parte se deve ao fato de o rock estar em evidência.
E não estamos falando em rock “calmo”. Além deste tipo, também há uma série de bandas de heavy metal, rock pauleira, que fazem sucesso louvando a Deus. Já parece difícil acreditar nisso, então o que dizer das igrejas que nasceram graças a esse fenômeno? Hoje, até aqui no Brasil, existem igrejas onde o louvor é feito ao som de guitarras e baterias agressivas e muitos se vestem totalmente de preto.
Um exemplo muito claro de assimilação entre o gospel e o metal é o sucesso da banda americana Evanescence, que até 2003 era praticamente desconhecida do grande público. Bastou uma entrevista com alguns palavrões da vocalista Amy Lee, para tirar seu CD das lojas cristãs. A banda até contém alguns integrantes evangélicos, entretanto suas letras não falam quase nada a ver com Cristo; quase sempre as músicas do Evanescence falam de emoções comuns como tristeza, paixão e coisas mais complexas como crise existencial e outras.
Mas a amizade do gospel com o rock não começou exatamente na década de 70, mas nos anos 50, com Elvis Presley, considerado o maior divulgador internacional do gênero evangélico. Ironia ou não, há quem considere Elvis o rei do Rock também. Conforme já mencionado, Elvis começou a cantar na igreja ainda criança e adorava isso. Porém, seus ouvidos também eram apaixonados pelos outros ritmos negros. Com a carreira brilhante que levava, Elvis costumava incluir elementos da música gospel em seus discos, como corais ou mesmo músicas com letras que exaltavam ao Senhor, além de ter lançado alguns discos só de músicas gospel.


A INCIDÊNCIA DO GOSPEL NO BRASIL

A música evangélica no Brasil é tão velha quanto a presença dos protestantes no país. Entretanto, o que se tinha antigamente não é o que hoje chamamos de gospel. A maior parte das canções entoadas nas igrejas fazem parte de um cancioneiro conhecido como Harpa Cristã, um material tradicional e de ritmos leves, os quais eram utilizados (e ainda é) na cantoria dos fiéis.
O termo inglês só comecou a ser empregado aqui pela gravadora Gospel Records, na década de 80. O curioso é que só no Brasil a música exclusivamente cristã é chamada de gospel, enquanto em outros países, como Estados Unidos, ela se chama Christian Music (música cristã). Lá, gospel significa um estilo musical não necessariamente ligado à doutrina evangélica, mas à técnica e performance negras do estilo. Hoje em dia, em nossa nação, o termo está tão abrangente que já não diz respeito apenas à música, mas também a estilo de vida, comportamento cristão, produtos de consumo para o público evangélico etc.
De um ponto de vista mais comercial, o gospel estourou no Brasil com o surgimento de Ministérios de louvor (conjuntos musicais) como Koynonia e cantoras como Marina de Oliveira e Cristina Mel, lá pelo fim da década de 80. Uma vez deixando de se limitar só às igrejas, a música protestante fez o Brasil assistir nos últimos vinte anos a um crescimento estrondoso de sua cultura, tão cheia de características marcantes. Os “crentes” não são um povo que se prende apenas à questão musical em suas apresentações. Eles costumam chamar o público para “aceitar Jesus” ou reconciliar-se com Deus, além de fazer pregações do Evangelho e contar suas próprias histórias de vida.
Embora os anos 80 tenham sido frutíferos para a música gospel no Brasil, podemos afirmar que ela teve seu auge nos anos 90, quando o mercado começou a se expandir e atrair mais público. O gospel estava sendo interpretado em ritmos brasileiros como sertanejo e samba, colocando-o mais próximo da nossa cultura.
Entre os destaques da gospel music brasileira, dos anos 90 até hoje, podemos citar cantoras muito populares, como Aline Barros, Fernanda Brum e Cassiane (esta sendo uma das primeiras do gênero a vender um milhão de cópias de um disco); bandas de rock como Oficina G3 e Resgate (única banda do mundo formada só por bispos); cantores como Kléber Lucas, Paulo César Baruk e David Quinlan; ministérios de louvor, entre os quais citamos Ministério Apascentar de Nova Iguaçu (o qual já mudou de nome duas vezes e atualmente se chama Trazendo a arca), Voz da verdade (este com mais de trinta anos de carreira e muito sucesso) e Diante do Trono (atualmente considerado o mais popular, com uma variedade de outros ministérios dentro de si mesmo, como os trabalhos solo de alguns membros e outros projetos; o Diante do Trono é também um dos que mais atraem público aos shows, chegando a se apresentar para cerca de dois milhões de pessoas numa só noite). De alguns anos pra cá, tem surgido bandas e cantores rapidamente aprovados pelo público e grandes candidatos a deixarem seu nome na história do gospel brasileiro, como Quatro por um, Mellosweet (este dando muito valor ao “gospel de raiz”, isto é, incorporando muito a música negra no seu trabalho), Jamilly e Mara Maravilha (ex-apresentadora do SBT, convertida nos anos 90), entre vários.
Até os membros da Renovação Carismática Católica deixaram as diferenças de lado e passaram a realizar suas missas cantando vez ou outra músicas originalmente evangélicas. É o caso do Padre Marcelo Rossi, que regravou sucessos de Aline Barros e Elizeu Gomes.
Apesar de toda essa evolução e revolução cultural, o movimento de música e cultura protestante no Brasil é quase 100% limitado aos fiéis e partidários de igrejas, diferentemente de vários outros países. Aqui, poquíssimos artistas têm o trabalho reconhecido fora desse cenário. Porém, em se tratando de inovações, o Brasil não fica muito atrás: faz parte da cultura evangélica, principalmente entre os jovens de hoje, as chamadas baladas gospel, festas feitas ao som de músicas gospel remixadas por DJs, cultos com muito rock, reggae e funk gospel. Essas festas são muitas vezes criticadas duramente por terem grande semelhança com as baladas mundanas, embora sejam explicitamente proibidos o álcool, cigarros e “cantadas quentes”, além de outras coisas nada crentes.
O fato é que, como dito no início, o movimento gospel com certeza não está relacionado apenas a um tipo de música originado no sofrimento dos negros escravos nos Estados Unidos; todo seu desenvolvimento mexeu com o mundo e assim ele foi absorvido pelas diversas sociedades, ganhando características muito próprias em todas elas. A música gospel acabou realizando um trabalho incrível pela humanidade, colocando-a para louvar a Deus com emoção e gerando gêneros musicais de muita força e impacto.

Um comentário:

Neilyane disse...

Oi, deu uma linda com muita atenção no seu texto...bom eu não gosto muito desse termo "gospel", ele veio carregado de ramificação e referências não muito boas para o mundo cristão, como vc bem citou vários cantores e suas histórias pouco fiel a Deus. Eu acredito no louvor, aquele de coração...não no simplesmente cantar, voz linda e tudo, solos marcantes..isso é euforia da carne, da empolgação, pra arrancar suspiros da uma multidão, como bem fazem os rockeiros. Feliz são aqueles que conseguem deixar a marca de Cristo em suas vidas. ser evangélico é fácil, ser cristão é mais difícil, pois requer renúncias, e abdicação de de sua gloria, pela glória de Cristo. Mais é bom esse tipo de informação, li algumas coisas q já tinha visto dos cantores que fizeram historia na onda gospel. bjs pra vc.